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Mostrando postagens de janeiro, 2009

Editorial

A edição de número 25 da revista Griffe é uma realidade. Surge renovada, com mudanças de conteúdo, de autores e um novo design, mais leve — mais objetivo. Tudo para facilitar a leitura e enriquecer ainda mais esta publicação de conteúdo jornalístico-acadêmico. Mais importante que a embalagem é o conteúdo, o que está escrito em cada uma destas páginas. E para esta edição publicamos abordagens inéditas sobre educação, ética, cinema, mídia, fotografia e muitos outros assuntos produzidos pelos mais diferentes profissionais da academia e do jornalismo. A revista Griffe está dividida em duas partes, com trabalhos distintos na forma como foram concebidos, mas interligados em suas temáticas. A primeira parte engloba os textos jornalísticos curtos, matérias e crônicas. A segunda parte abrange os textos de análise, artigos acadêmicos redigidos com base em pesquisas, com o objetivo de proporcionar ao público-leitor uma fonte segura de conhecimento a respeito de vários seguimentos, tais como cul...

O país do futebol

ANDRÉIA T. COUTO Era a segunda vez que eu fazia uma incursão a pé pelos arredores da cidade. Ainda não havia saído das cercanias do hotel, e estava ansiosa para fazer um reconhecimento da área, explorar os novos ares, ver o que os meus olhos ansiavam ver: o diferente. O Agasaro Hotel, localizado em uma avenida próxima ao aeroporto Internacional de Kigali, possibilitava caminhadas fora dos padrões turísticos. Enveredando por algumas vielas que nasciam na avenida, tortuosas e sem calçamento, fui parar em um campo aberto, de onde podia ouvir sons de crianças gritando. Aos poucos, à medida que me aproximava, reconheci imediatamente o motivo da gritaria e euforia: um grupo de crianças, 20 para ser exata, corria de um lado para outro, aparentemente de forma desordenada, através de um campo de terra batida, sem trave nos lados opostos ou nenhuma marcação no solo do terreno, mas que caracterizava um campo de futebol. Sentados nos barrancos ao lado do campo, ou em pé em gritaria com os jogadore...

O aquecimento global e a invenção do fim do mundo

FÁBIO TOZI Embora se diga em toda parte que vivemos a democracia, o que vemos, cada vez mais, é, como dizia Milton Santos, o reinado do pensamento único, que tem na aceitação inquestionável da globalização sua manifestação mais bem acabada. Os modos diferentes de pensar são desqualificados a priori, criminalizados, e acusados de perigosos ao rumo correto do país. Acreditamos, porém, que o avanço de processos democráticos deva, ao contrário, atribuir legitimidade às discordâncias, mostrando que o futuro não é uma reprodução do presente, mas uma escolha entre as muitas possíveis. As questões ambientais, e especialmente a discussão sobre o aquecimento global, temários exaustivamente cotidianos, são, com suas particularidades, doutrinadas pelo domínio de um pensamento único, ignóbil, avesso ao debate e à divergência e, por isso, incapazes de superar o senso comum e de conduzir a um esclarecimento sobre o mundo. O movimento ambientalista se trans-forma em um pensamento único por ter atingid...

A fotografia cinematográfica

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REINALDO REIGRIMAR FLAVIO F. A. ANDRADE A imagem em movimento nos remete a sensações antes não observadas em outros meios, como a fotografia estática. O vestido da moça e o véu que ela traz no cabelo ganham vida com o movimento brusco de uma corrida, tomada em quase câmera lenta, onde o mato também se movimenta com a força do vento. Uma folha caindo de uma árvore, os raios solares penetrando na copa de uma árvore, interagindo com os troncos na floresta, e a luz se esconde e aparece nos encontros das árvores. As nuvens em sua corrida diária tornam-se rapidamente densas e escuras revelando uma tempestade que, em alguns casos, irá predizer uma tragédia. Este movimento transformatório é típico da composição linear fotográfica. A fotografia nem sempre é a tomada grande-angular. Detalhes de um chão iluminado apenas por um feixe de luz natural, um ambiente escuro tendo como ação um jantar em família onde nada ao redor é exposto pela luz, apenas os rostos e a delicadeza de uma cena longa e sim...

Sobre educação

REINALDO SAMPAIO PEREIRA Sendo espectador há alguns anos de algumas questões referentes à educação, tornei-me palpiteiro acerca de algumas delas. Trato aqui de alguns primeiros questionamentos sobre alguns aspectos da educação e apresento alguns palpites sobre esses questionamentos, a partir da minha perspectiva de análise. Nessa atividade de examinar e palpitar, julgo conveniente começar por observar que considero boa via de análise da educação (mesmo em seu sentido lato e não apenas no sentido estrito de educação formal), pensá-la da perspectiva do seu fim, a partir da pergunta dos seus porquês. Desse viés, uma primeira pergunta que podemos fazer é: para quê a educação? Se respondermos: para criar possibilidades de uma maior quantidade de bem-estar para a sociedade e para os indivíduos, parece-me que estamos em uma boa trilha, na qual apresentamos uma resposta que a torna digna de múltiplos elogios. Mas, antes de recorrermos a afirmações categóricas retóricas não fundadas em bons arg...

O LUTADOR (lançamento livro)

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Escritora e colaboradora da revista Griffe , Andréia T. Couto, lança romance na Bienal Internacional do Livro em São Paulo "Narrativa em primeira pessoa de um obscuro e tímido professor de literatura, a partir de algumas impressões sobre sua vida de privações e sonhos não realizados. No intervalo de 24 horas, leva o leitor a conhecer seus desejos e frustrações, em meio a fantásticas viagens imaginárias e experiências literárias vividas por ele através de Verônica, seu alter ego. Pressionado por sua rotina massacrante, rememora tudo o que não fez – sonhava, quando jovem, ser diplomata e viajar pelo mundo, mas sua origem modesta encerrou ainda cedo essa possibilidade – e fala do que ainda planeja fazer. Enquanto professor, é medíocre e reacionário, vive modestamente acalentando a possibilidade de um dia ser um grande escritor. Mas por incapacidade e insegurança, nunca conseguiu traçar uma página sequer. Vê tudo transformar-se com a “chegada” de Verônica: ela o encoraja a escrever e ...

Do mote da adaptação para a criação de uma nova linguagem

CRISTINA TISCHER RANALLI Segundo a etimologia, adaptar significa adequar, tornar apto e em se tratando de uma obra literária, adaptação significa modificar um determinado texto a fim de adequá-lo a um outro público. Adaptar, portanto, não é tarefa fácil e o roteirista, pessoa que faz a adaptação, não menos importante que o próprio autor da obra adaptada. Literatura, teatro, cinema são canais distintos para a expressão da arte e como têm o objetivo comum de transmitir arte, lidar com a emoção, com a catarse, são comumente interligados pelas adaptações. Assim sendo, o autor, o dramaturgo e o cineasta estão num mesmo patamar de “importância artística”, já que cada um desenvolve sua arte respeitando os limites de seu meio de comunicação. É comum assistirmos a adaptações de romances em forma de cinema. A indústria cinematográfica se vale com certa frequência de obras literárias para produzir longas-metragens que encantam o público e que, muitas vezes, fazem com que esse mesmo público procur...

A África sob os holofotes do etnocentrismo cinematográfico

ANDRÉIA T. COUTO O cinema sempre teve no continente africano um de seus grandes temas fílmicos. Iniciado ainda na era dos filmes em preto e branco, um dos grandes sucessos de Hollywood que marcou época foi Tarzan. O mistério, o exótico, a selva impenetrável – tudo o que o espectador podia encontrar nas aventuras do homem macaco pendurando-se vertiginosamente em estratégicos cipós. As refilmagens, continuações e novos Tarzans atravessaram as décadas. O tempo passou, o cinema se modernizou e o foco sobre a África ganhou outras dimensões: as aventuras romantizadas perpetradas por Johnny Weissmuller foram substituídas por cenários de guerra, fome, corrupção, epidemias, campos de refugiados, tráfico e toda a sorte de problemas que se pudesse listar. A África, um verdadeiro laboratório para se estudar problemas de todo tipo, era focada sempre através de seu lado mais perverso. E claro, essa visão mostrada por um olhar ocidental – norte-americano – em seu eterno papel de vigilante dos padrões...

Neoprotagonismo - O Coringa – o herói onírico no cinema

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ANDRÉ RECHE TERNEIRO JUAN DROGUETT O imaginário cultural é exacerbado pelas diversas formas de expressão artística compreendidas pelo ser humano na dimensão audiovisual. Por meio de ima-gens em movimento, o cinema constrói personagens que protagonizam a saga em mitos e fantasias que se oferecem como possibilidades identificatórias para o espectador, fazendo parte dessa trama ficcional. Para este, o protagonismo repre-senta a chance de ser contemporâneo a todo tempo e espaço em que a civilização arquitetou seus mitos, sonhos e fantasias. Nesse sentido, o herói clássico, que inicia sua travessia na literatura, e se reforça nos ideais das gestas e romances medievais, vai encontrando seu papel nesse roteiro da dramaturgia em que salvar a humanidade representa o fim último de sua existência. No entanto, na fruição da arte de representar, não todo herói responde a um estereótipo ideal: com o devir dos tempos modernos, novos imaginários vêm de encontro à linguagem do cinema sempre ávido de co...

Sin —City a 24 quadros por segundo

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FLAVIO PADOVANI Sin —City a 24 quadros por segundo é o título deste artigo que pretende demonstrar como as Histórias em Quadrinhos de Frank Miller derivadas dos livros Sin —City —a cidade do pecado ([1991]2005), Sin —City —a grande matança ([1995]2005) e Sin —City —o assassino amarelo ([1996]2005), deram lugar ao filme Sin —City —a cidade do pecado (2005), dirigido por este autor e pelo cineasta mexicano Robert Rodriguez. Nesse processo de transposição, no qual as limitações dos quadros ganham a ilusão do movimento: a 24 quadros por segundo, o código se transforma no elemento fundamental, enquanto suporte de linguagem, afetando tanto a produção quanto recepção do produto cultural fílmico. O artigo é dividido em três partes, a primeira refere-se à história das Histórias em Quadrinhos e de que forma estas aparecem nas revistas, um fenômeno da indústria cultural; a segunda, para analisar o processo de adaptação e transposição dessas histórias do registro escrito para o registro audiovisua...