Descobrindo Florianópolis: primeiras semanas

-->Lívia Scarapicchia
Olhando para trás, é quase inacreditável como aceitei tão fácil a ideia de me mudar para Florianópolis. A não ser pelos livros de geografia e alguns comentários feito pelo meu irmão, não sabia muito mais sobre a cidade. Eram somente imagens, nada que fizesse muito sentido. A verdade é que, após eu ter ficado sabendo o motivo da minha mudança, nenhum desses dados realmente importava. E o motivo era que eu havia passado no exame vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina, e, enquanto teoricamente falando, meu objetivo seria me focar nos estudos, por outro viés, já conseguia me imaginar em um espaço só meu. Essa era a minha chance de sair da casa dos meus pais, de fazer tudo no meu tempo e do meu modo. Assim, Florianópolis se tornava como um sinônimo de liberdade para mim.
Foram mais ou menos onze horas de viagem até a ponte Hercílio Luz. Apesar da grande empolgação, não lembro como foi minha primeira chegada: o sono acabou por me vencer. Afinal, além da grande distância entre Jundiaí e a ilha, o horário do ônibus também não favorecia. Havia somente uma saída por dia e ela era noturna. Ainda não estava sozinha, pois minha mãe me acompanhou durante uma semana.
Logo nos primeiros dias tive como tarefa buscar um lugar para eu morar. Segundo minha mãe, como eu já queria ser dona do meu próprio nariz, deveria eu mesma ligar para os lugares perguntando se havia alguma vaga. Não gostei nada da ideia, me achava tímida e insegura demais para fazer isso, porém, não podia tirar sua razão, ela estava certa. E foi assim o começo da minha independência. Seguimos em direção aos corredores da Universidade. Os murais eram tantos, os papéis eram tantos, mas finalmente, depois de inúmeras ligações, consegui um lugar para ficar. Era uma “república” no bairro Pantanal. Uma característica positiva desse bairro era a sua localização, ficava bem próximo ao prédio no qual as disciplinas do meu curso seriam lecionadas. Uma negativa era que uma boa parte das ruas que o compunham era de difícil subida. A que fui parar, parecia especialmente íngreme. Feita de paralelepípedos, era um caminho para o céu, que facilmente roubava meu fôlego.
A semana passou rapidamente. Havia chegado o momento da despedida, o qual, claramente me recordo. Foi uma das poucas vezes, até o momento presente, que vi minha mãe chorar. Ela, sem dúvida alguma, gostaria da minha companhia até a rodoviária. Porém, minha ansiedade por ficar sozinha era tanta, que tal ideia nem passou pela minha cabeça. Engraçado como a vida funciona. Somente agora, enquanto escrevo isto, é que parei pra imaginar como deve ter sido angustiante a viagem de volta da minha mãe, como ela deve ter se decepcionado comigo, pelo fato de eu ter escolhido ficar em casa naquele último dia que passamos juntas.
Foi marcante também a primeira ligação que recebi dos meus pais. Tive que conter o choro. Eu não queria demonstrar minha saudade e minha tristeza. Estava me sentindo bem sozinha. As aulas não haviam começado e ainda não conhecia ninguém. Entretanto, nesse mesmo dia, na hora do almoço, a menina do quarto ao lado veio conversar comigo. Desabafei. Ela foi a responsável pelos meus primeiros passeios pelo bairro e foi pra ela que contei minhas primeiras novidades.
Com o início das aulas fui adquirindo novos contatos, conhecendo novos lugares. E uma particularidade que se tornava cada vez mais evidente, era que tanto nos gramados da UFSC, quanto no bairro da Lagoa e nas diversas praias, a diversidade cultural era algo que dominava. A ilha parecia estar tomada por pessoas de diferentes localidades: outras cidades, outros países. O complicado mesmo era encontrar algum “manezinho”.
O clima e a paisagem eram características notáveis. Fiquei bastante impressionada com a brisa suave que chegava ao centro e com a natureza, no míninmo, exuberante. Em uma volta por uma praia mais isolada pude sentir a genuína força do vento e a força do mar. Presenciar esse conjunto de forças foi incrível. A natureza era tão intensa, que em questões de minutos fez com que eu me sentisse vulnerável, inferior.
Como consequência natural do tempo, a rotina foi ocupando seu devido espaço dentro dos meus dias. Porém, a realidade que eu estava vivendo era totalmente inovadora, eu ainda enxergava Florianópolis de forma brilhante. Foi um tempo de pura expectativa.
Lívia Scarapicchia, graduada em Letras Licenciatura Português e Inglês pelo Centro Universitário Padre Anchieta. Atualmente, trabalha como revisora de textos.
Comentários
Parabéns a Griffe também, abraços.