Desejo de estética

FLAVIO F. A. ANDRADE

Este não é apenas mais um livro sobre dieta. Não tratamos apenas da dieta do corpo. Descrevemos alguns aspectos sobre estética, causas e conseqüências desta busca desorientada pela beleza corporal. Por este e outros motivos não é aconselhável rotular este livro como mais um entre tantos outros métodos para perder peso. É, sim, um exercício de reflexão sobre como lidamos com este desejo de estética.
Por que estamos tão propensos a este comportamento repetitivo, em busca de uma perfeição impossível de se alcançar? Como manter corpo e mente saudáveis com o estilo de vida frenético que vivemos? Como encontrar este equilíbrio em meio a tantos obstáculos? Estas são algumas das perguntas que fizemos a diversos profissionais que possuem vasta experiência teórica e prática em relação à estética e seus estigmas. As respostas a estas e a outras questões estão nas próximas páginas do livro Corpos estéticos, que faz parte da série de publicações temáticas da revista Griffe, e sugere uma nova perspectiva sobre a arte expressa pelo corpo.
Os textos foram produzidos especialmente para esta coletânea. Todos inéditos e com algo em comum: buscam retratar a beleza e o modo como a sociedade com ela se relaciona. O leitor também encontrará algumas abordagens curiosas, análises e apreciações que o levarão a alguns questionamentos sobre as informações contidas em muitos livros de dieta.
Para produzir este livro, todos os autores procuraram se orientar por pesquisas científicas e por fontes confiáveis no momento da preparação de seu conteúdo. Ressaltamos, no entanto, que constantemente a ciência atualiza os conceitos sobre determinados assuntos. Novas pesquisas do campo da medicina surgem constantemente, seja na área estética ou nutricional. Os métodos e tratamentos estão sempre mudando.
Durante muito tempo na história da humanidade a busca pela estética corporal esteve presente no desejo das pessoas. Este desejo não teve uma continuidade linear. Passou por períodos de exacerbação, como na Grécia Antiga, na Idade Média e no Renascimento, períodos marcados pelo desejo de estética. Esta busca da perfeição deixou suas marcas nas artes, pois o homem procurou reproduzir a beleza do corpo em diversas obras: esculturas, pinturas e até na arquitetura. O legado destas épocas nos enche de admiração – e desejo.
Neste início de século, vivemos mais uma vez um período de extrema valorização do corpo. A estética corporal, caracterizada pela harmonia, simetria e equivalência, como na Grécia Antiga, é motivo de admiração e conflitos internos. Atualmente buscamos esta harmonia a qualquer preço. Diferentemente de outros períodos históricos, é através da mídia – revistas, cinema, TV, etc – que retratamos e cultuamos esta beleza.
A cada ano cresce assustadoramente o número de publicações de livros e revistas que têm como tema a beleza corporal, contribuindo para aumentar ainda mais o desejo do culto ao corpo. Mesmo sabendo que esta perfeição não existe, muitas pessoas arriscam a própria saúde na tentativa de obter resultados rápidos, nem sempre satisfatórios.
A estética corporal é conseqüência de diversos fatores. Uma equação simples: genética, alimentação correta, exercícios físicos e cuidados constantes. Quando a natureza não ajuda, recorre-se a cirurgias estéticas. Mesmo dispondo de alguns recursos artificiais, a alimentação e a atividade física não podem ser esquecidas. É através destas duas atitudes que “moldamos” nosso corpo. Uma alimentação adequada e exercícios físicos corretos podem mudar radicalmente o corpo e trazer benefícios à mente. Por exemplo, a ciência já comprovou que é possível aumentar a capacidade de memorização ingerindo peixe e praticando esportes aeróbicos ou até mesmo curar certas doenças com alimentação específica.
A questão é como adquirir entusiasmo suficiente para praticar atividade física e evitar o consumo de produtos inadequados ao bom funcionamento do corpo. Em resumo: como perder a barriga sem perder a cabeça?
Informação é a maior arma nesta era tecnológica. Quem tem informação tem poder. Esta máxima vale também para quem busca a boa forma, sem ficar obcecados por balanças, calorias e adipômetros. A prevenção possibilita a detecção da doença na fase inicial, facilitando seu tratamento. Muitas doenças podem ser evitadas se cuidarmos melhor de nossos corpos. Com informação adequada, ganha o corpo e a mente.
A quem caberia o papel de nos ensinar a vivenciar a integração entre o ser humano e o alimento? Médicos, mídia, ou família? Esta estética a qual buscamos incessantemente, condição de felicidade ou tristeza, responsável por problemas físicos e psicológicos na sociedade ocidental, é um sinal das transformações socioculturais que vivemos. O desejo de estética é fruto de uma herança pobre em informação, rica em mitos e lendas. Em nossa sociedade a busca pela estética é uma prática constante, e uma das grandes queixas é conseguir o equilíbrio entre desejo e conquista. Então o médico, no papel de agente de saúde, poderia oferecer o caminho da prevenção e avaliar de forma mais cautelosa o estado clínico do paciente, antes mesmo do aparecimento dos efeitos da falta de cuidado com o corpo. O exame de circunferência abdominal, apesar de ser um procedimento simples, nem sempre é realizado por médicos nos exames de rotina. Ao médico caberia informar ao paciente sobre seus limites e detectar as origens da dificuldade que o mesmo apresenta em manter-se dentro de um estilo de vida saudável. Este trabalho realizado em conjunto – médico e paciente – resulta em melhor aproveitamento de tempo e dinheiro.
Estamos no caminho certo nessa busca pela estética? Valorizar os corpos harmoniosos, fortes e atléticos é algo saudável? Ou apenas uma ditadura do espelho, que tem como objetivo a venda de produtos e serviços? Trata-se de mais um período histórico contemporâneo retratado nas novelas, nos filmes, nos anúncios e nas ruas. Por se tratar de um início, temos muita dificuldade em lidar com o assunto. Corpos estéticos propõe uma nova perspectiva diante da intensa cobrança estética que a sociedade nos impõe; sugere uma análise individual e coletiva sobre como tratamos nossos corpos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A viagem de Platão a Siracusa

O continente branco: viagem ao fim do mundo

Livros