PROPÓSITO »» Griffe - dez | jan 2008 | ano 5 nº 23


Flavio F. A. Andrade


Por muito tempo evitamos publicar fotos, matérias, artigos ou ensaios que tratassem de nossa própria história. Procuramos ao máximo preencher os espaços com análises e críticas sobre acontecimentos relevantes na sociedade. Acontece que chega um momento que é preciso dizer algumas palavras sobre missões e objetivos. Talvez para esclarecer porque criamos e desenvolvemos uma revista tão peculiar como esta. Quem lê a Griffe percebe com facilidade que nos preocupamos com a valorização do pensamento crítico, e o que nos orienta é o exercício do raciocínio intelectual. Mas neste momento tão necessário quando publicar material original e que traga uma visão mais abrangente do ambiente em que vivemos, é falar sobre o que nos motiva a publicá-lo. Todo este processo de se auto-retratar, quando realizado na medida certa, torna-se importante, porque muitos leitores e profissionais estão curiosos por conhecer a trajetória de vida desta revista alternativa.
Reproduzimos nesta edição a entrevista Páginas para abrir a mente dos leitores. Produzida originalmente para o jornal A Verdade Regional pelo jornalista Thiago Godinho, trata de forma aprofundada sobre jornalismo regional, tendências, causas sociais e mídia. Esta entrevista, juntamente com o estudo de caso produzido pela professora Ieda Cavalcante dos Santos sobre a revista Griffe, apresentado no 3º Encontro de Professores de Jornalismo de São Paulo, ocorrido em Piracicaba, em outubro passado, contribui para aumentar o conteúdo sobre o debate da profissão e do ensino de jornalismo no Brasil.
Como se sabe, os cursos de jornalismo recebem anualmente milhares de estudantes que sofrem com a falta de estímulo e de parcerias duradouras entre aluno/professor nas universidades. Além da ausência desta parceria, existe outro problema: o mercado editorial com relevância está concentrado nos grandes centros. Veículos e profissionais no interior do país são constantemente subjugados, dentro e fora da academia. Deste modo, o mito de que o bom jornalismo está apenas nas capitais é passado de classe em classe, de redação em redação. É fato confirmado que não são todos os profissionais no interior do país que estão despreparados. Podemos encontrar docentes dispostos a construir um caminho mais pessoal, humano e engajado. Temos bons exemplos deste «professor modelo» da nova concepção da formação jornalista em Jundiaí e Campinas, reunidos na Griffe. Dispostos a colaborar com novas idéias e experiências práticas, dando sequência aos seus ensinamentos.
Foi com esta filosofia que surgiu na revista Griffe a primeira parceria aluno/professor. Ieda Cavalcante dos Santos é uma destas profissionais que sabem da importância mútua desta união. Primeira professora a aceitar o nosso convite para ser uma colaboradora, acreditou no projeto quando estava na fase inicial. Esta colaboração tornou-se fundamental para a credibilidade e o sucesso da revista. Com vasta experiência em comunicação, Ieda é hoje professora do curso de Jornalismo da Universidade Paulista (UNIP/Campinas). Ao lado de todos os outros nossos colaboradores-parceiros, contribui com seu conhecimento prático/teórico para deixar esta publicação ainda mais consistente e relevante. Existem muitos outros bons exemplos de professores comprometidos em instruir e fazer parte do desenvolvimento intelectual dos alunos – consequentemente dos leitores. Mas por rações empíricas, citamos aqui exclusivamente nossa experiência profissional, da qual podemos falar com propriedade. Quem sabe, com esta divulgação, os profissionais e seus trabalhos possam servir de exemplo para outras instituições de ensino, comunicadores, professores, alunos e futuros jornalistas.
Ainda nesta edição, em Arquitetura, o jornalista Mauro Utida faz algumas observações de como imaginava ser a casa do futuro. Minimalismo, simplicidade e sustentabilidade preenchem os lugares onde antes achávamos que seriam dominados pela tecnologia, formas inusitadas e independência pessoal. Também, a partir do artigo A Sutileza dos lofts, observamos o modo de vida surgido nos anos 40 em Nova York e que agora ganha espaço nas grandes cidades brasileiras.
Na seção mídia, a polêmica sobre a pirataria das produções cinematográficas. O que é justo? O que é ético nesta prática? Em outro artigo, uma análise sobre como a grande mídia trata as notícias e as pesquisas relacionadas à vida extraterrestre. Outro assunto atual e polêmico é o culto excessivo ao corpo. De um lado, a mídia que se vale da superexposição dos corpos para vender seus produtos. Do outro, os críticos e intelectuais que julgam esta controversa prática, acusando de ser uma das principais causas dos problemas psicológicos vividos por aqueles que não conseguem moldar um corpo semelhante aos daqueles expostos diariamente nas revistas e na televisão. E para complementar o debate, André Reche Terneiro comenta sobre o neo-protagonismo, citando o filme Little Miss Sunshine. Desta vez, o objeto de análise de André é a menina Olive, de sete anos, que mesmo não tendo as medidas corporais necessárias, concorre ao concurso de miss infantil. O filme é também uma crítica ao modo de vida do norte-americano, onde a beleza, exteriorizada pela magreza para as mulheres e pelos músculos para os homens, é requisito básico para o indivíduo ser aceito na sociedade.
Muitos dos assuntos aqui discutidos refletem alguns problemas vividos pela sociedade atualmente. São temas pouco divulgados porque a grande mídia, que pauta o que será discutido ou não, é também o objeto desta análise. Tratamos os assuntos com profundidade e liberdade editorial que só uma revista como a Griffe pode ter. Diferente dos meios de comunicação oficiais, ortodoxos, mas como o próprio leitor pode perceber, com a mesma relevância.

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