PÁGINAS PARA ABRIR A MENTE DOS LEITORES

Thiago Godinho
Muito mais que uma revista «bonitinha» no mercado. Muito mais que um nome ou marca própria de um fabricante ou criador. Idealizada pelo jornalista Flavio Andrade, a revista Griffe surgiu na região de Jundiaí não apenas para cumprir a definição dada a seu nome, no dicionário. «No nosso caso, é a junção do verbo grifar, no sentido de memorizar a mensagem exposta, com o substantivo grife, enquanto marca... nossa confecção é feita de papel, palavras e imagens como matéria-prima e nossos estilistas são professores, jornalistas, poetas, compositores...»
O conceito, inserido na página 140 da recém-lançada Griffensaios, publicação em comemoração ao terceiro aniversário, resume bem o objetivo do periódico. Flavio Andrade, que também é colunista do JV Regional, começou a trabalhar com jornalismo em Minas Gerais, quando se formou Técnico em Comunicação Social – Jornalismo. Hoje, dedica boa parte do seu tempo ao que chama de «nova paixão». Junto com o trabalho de edição da revista Griffe, ele mostra sua arte como fotógrafo.
A publicação bimestral em preto e branco – com fotografias, crônicas, artigos e ensaios – já despertou a curiosidade de muitos leitores na região de Jundiaí. O estilo ousado e a amplitude dos colaboradores em formação e localização – alguns escrevem de Londres e Nova York – são alguns dos fatores que chamam a atenção.
Thiago Godinho – A revista Griffe tem a intenção de valorizar e estimular o pensamento crítico. O lançamento do periódico supriu uma lacuna na cidade e na região?
Muito mais que uma revista «bonitinha» no mercado. Muito mais que um nome ou marca própria de um fabricante ou criador. Idealizada pelo jornalista Flavio Andrade, a revista Griffe surgiu na região de Jundiaí não apenas para cumprir a definição dada a seu nome, no dicionário. «No nosso caso, é a junção do verbo grifar, no sentido de memorizar a mensagem exposta, com o substantivo grife, enquanto marca... nossa confecção é feita de papel, palavras e imagens como matéria-prima e nossos estilistas são professores, jornalistas, poetas, compositores...»
O conceito, inserido na página 140 da recém-lançada Griffensaios, publicação em comemoração ao terceiro aniversário, resume bem o objetivo do periódico. Flavio Andrade, que também é colunista do JV Regional, começou a trabalhar com jornalismo em Minas Gerais, quando se formou Técnico em Comunicação Social – Jornalismo. Hoje, dedica boa parte do seu tempo ao que chama de «nova paixão». Junto com o trabalho de edição da revista Griffe, ele mostra sua arte como fotógrafo.
A publicação bimestral em preto e branco – com fotografias, crônicas, artigos e ensaios – já despertou a curiosidade de muitos leitores na região de Jundiaí. O estilo ousado e a amplitude dos colaboradores em formação e localização – alguns escrevem de Londres e Nova York – são alguns dos fatores que chamam a atenção.
Thiago Godinho – A revista Griffe tem a intenção de valorizar e estimular o pensamento crítico. O lançamento do periódico supriu uma lacuna na cidade e na região?
Flavio Andrade – Acredito que estamos começando um novo processo para poder suprir esta lacuna. Ainda não é suficiente, precisamos crescer e estamos conseguindo isso com o apoio de empresas e pessoas que acreditam num jornalismo com mais liberdade editorial. Nossa região carece deste tipo de comunicação: um jornalismo mais crítico, analítico, compromissado com a verdade, acima de tudo. Acreditamos que os profissionais da área de comunicação se preocupam com isso e a revista é prova disso. Somos procurados por vários profissionais, com idéias muitas vezes divergentes, mas que merecem espaço, pois não cabem em veículos comerciais. Acho que a tendência é surgirem mais veículos com esta característica, que discutam os fatos e incluam comentários e opiniões, coisa que já vem acontecendo na TV há algum tempo.
De que forma as críticas embutidas na revista servem como instrumento de mudança social?
Ao mostrar ao máximo os problemas que temos, estamos estimulando a reflexão sobre nossas atitudes em relação à realidade. Não podemos apenas cobrar atitudes do poder público para acabar com os problemas da sociedade, mas também fazer nossa parte. As pessoas passam a ignorar o problema, fingir que não vêem, e isso leva à letargia, ao conformismo. Reinaldo Sampaio define bem isso no artigo dele. Os problemas sociais restringem nossa capacidade de viver bem. Por que não fazemos nada? Por que esperar apenas que as ONGs e o poder publico o faça? O que mais ouvimos sobre nossas fotos é isso: «nossa, nunca tinha reparado isso!» Acho que a proposta do anti-postal está dando certo. O simples ato de registrar a paisagem faz o público despertar, comentar o que não é comentado. Contextualizar, interpretar. Esperamos com isso gerar movimento (interior e exterior). Acreditamos que o registro gera conhecimento, que gera debate, que gera insatisfação e por consequência, mudança.
Como é a receptividade do público? Qual o público-alvo?
A receptividade tem sido a melhor possível. Recebemos muitos elogios por esta iniciativa de criar um veículo mais profundo. Esta boa receptividade certamente está relacionada com a ousadia, com a novidade, com o diferente. As pessoas não querem apenas notícia. Elas querem algo mais. E encontram na Griffe. O jornalismo literário voltou com tudo, a grande reportagem e a crítica também. Nosso público-alvo é o mais abrangente possível. Isso inclui desde o jovem até o idoso. Desde o estudante até o aposentando, passando pelos profissionais de várias áreas. Queremos despertar nas pessoas o interesse pelo conhecimento, que exerçam sua capacidade de julgamento. Que as pessoas possam ler um artigo de opinião e discordar, ou concordar. Que os assuntos tratados na revista sejam comentados, debatidos, esmiuçados. Que gerem (re)ações por parte das pessoas. Não somos donos da verdade, por isso queremos que todos participem, comentem, mandem seus textos. Nosso desejo maior é criar uma comunidade atuante.
Na apresentação do Griffensaios, de três anos, você trata da questão editorial/comercial. Você acha possível conciliar os dois fatores, sem ruídos de comunicação que prejudiquem a informação ao leitor?
É possível apenas quando o veículo se propõe a isto, quer ser lembrado por ser independente e trabalha pra isso. Sabemos que é difícil, porque o mercado está acostumado com a prática: é muito mais fácil manter um veículo fazendo parcerias nem sempre bem vindas pelo público. Mas o leitor não é bobo, sabe quando está lendo algo impuro, com «ruído», como você disse, influenciado por produtos ou empresas. Se o veículo de comunicação insiste em fazer um trabalho independente e consegue convencer empresas que o trabalho é diferenciado, passa a receber apoio. Isso o torna mais próximo dos grandes veículos, que tratam os assuntos com muito cuidado, evitando misturar as coisas. Quanto ao lucro, se você não persistir, vai morrer antes de completar um ano. A menos que seja um grande investidor, disposto a colocar milhões até que o veículo comece a dar lucro. A Griffe é diferente, é um sonho pessoal, não nasceu para gerar lucros. O objetivo da revista é ser uma alternativa, um canal para a livre expressão. Mas para publicarmos é preciso dinheiro, o qual é obtido com apoio de empresas que investem em cultura, empresas preocupadas em ter suas marcas vinculadas a um veículo de comunicação que faz sua parte na sociedade.
Para o trabalho bimestral há as tradicionais reuniões de pauta, ou cada colaborador escolhe os temas a abordar?
A revista não tem sede física. As reuniões são feitas por MSN (internet) e telefone. O motivo disto é que temos colaboradores em Londres, Nova York, São Paulo e Campinas. Impossível reunir toda esta gente. Quando é publicação temática (por exemplo, na edição de dezembro falamos de morte), fazemos reuniões (on line) pra decidir o tema e escolher as fotos. Em outras edições, os temas são livres, os colaboradores escolhem seu próprio tema. Tudo depende da edição. Às vezes sugerimos o tema, mas o colaborador não quer falar sobre o assunto, então damos liberdade para ele escolher. Aconteceu com o tema morte, nem todos os colaboradores quiseram falar sobre isso. Teve gente que criticou o conselho editorial da revista porque o tema era pesado para a época (Natal). Em compensação, foi a edição que mais rendeu e-mail de retorno.
A linguagem da revista é ousada, em formato preto e branco e paginação que foge ao tradicional. Quais o intuito dessas diferenças?
A paginação favorece ao leitor. Tudo na revista é feito pensando no leitor e não porque o jornal tal faz «assim ou assado». A diagramação é baseada no conceito de leveza. Muito espaço em branco para a pessoa «respirar» entre uma página e outra, entre uma informação e outra. Muita informação numa mesma página cansa e não é digerido pelo leitor de forma satisfatória. O preto e branco antes era uma forma de cortar gastos. Agora o preto e branco é indispensável, pois valoriza os ensaios, as fotos, dando à revista um aspecto mais artístico. O formato pocket segue a tendência mundial de pequenos formatos: «menor, melhor». É mais prática de manusear e cabe dentro da bolsa. Ficou tão popular na Europa, que vimos recentemente algumas revistas brasileiras investirem neste formato (Viaje Mais, Joyce Pascovich, entre outras).
Ao final do Griffensaios há o Manual de Relação e Estímulo. Isso não ocorre em todas as edições. A fórmula, na verdade, é uma maneira de contextualizar o leitor?
O Manual é uma coisa nova, contém trechos de textos opinativos sobre diversos temas, já publicados. De certa maneira, busca mostrar ao leitor quem somos e como pensamos ou, como você bem resumiu, contextualizar nosso leitor estreante. Todo jornalista tem o Manual de Redação e Estilo do Estadão, focado mais na gramática, nas regras. Já o nosso manual não pretende ensinar ninguém a escrever, quer estimular o leitor a pensar alguns temas e se relacionar com a sociedade. Não é nada pretensioso, apenas uma sátira.
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¹ Entrevista publicada no Jornal A Verdade Regional por Thiago Godinho.
Referência
GODINHO, T. Páginas para abrir a mente dos leitores. A Verdade Regional, Várzea Paulista, n. 162, p.17, 17 a 23 mai. 2007. Entrevista.
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