CULTO AO CORPO: SAÚDE OU DOENÇA?


Luiz Cortez

Quando se fala da exposição excessiva de corpos «perfeitos» na mídia, rapidamente surgem milhares de pessoas criticando os meios de comunicação, usando como argumento a incidência crescente dos distúrbios alimentares, principalmente na população jovem. Alegam que a mídia cultiva um estereótipo, com homens musculosos e mulheres magérrimas, ambos com a famosa «barriga de tanquinho».
Para Richard Miskolci, esta busca é impossível. Autor do ensaio Corpos elétricos: do assujeitamento à estética da existência, publicado na Revista de Estudos Feministas da Universidade Federal de São Carlos, ele fala das diferenças, das limitações genéticas de cada um e da impossibilidade de sermos exatamente como os modelos. As pessoas comuns, que têm trabalho regular, família, filhos, contas para pagar, não podem viver na academia e, portanto, nunca ficarão como aqueles que vivem do próprio corpo, da venda de sua imagem.
Porém, não achamos justo atacar os meios de comunicação como se fossem os únicos responsáveis pelos excessos, transformando homens e mulheres em escravos das dietas e dos exercícios, obcecados com o estereótipo, chegando à inanição e à morte. Cada pessoa responde ao mesmo estímulo de uma maneira: uns vão passar a ter uma vida saudável, porém equilibrada; outros vão exagerar e até se juntar ao grupo dos doentes mentais (ansiosos, depressivos, bulêmicos, anoréxicos, etc.); e outros vão permanecer sentados em frente à TV, usando os músculos apenas para abrir uma lata de refrigerante, ou mudar o canal no controle-remoto.
Se o culto à beleza e ao corpo sarado faz tantas «vítimas» como dizem, então porque os índices de obesidade estão cada vez mais crescentes no nosso país, incluindo também a obesidade infantil? É verdade que temos um número maior de distúrbios alimentares, mas estes casos são poucos, se comparados aos de obesidade.
Achamos que a mídia está correta em mostrar pessoas saudáveis, atléticas. O exemplo deve ser de saúde. Mais do que a busca por corpos perfeitos, a TV deveria mostrar um estilo de vida saudável, pautado em dieta balanceada, exercícios e muito contato com a Natureza. Mas também é necessário evidenciar que nem todos vão ficar «perfeitos», que cada um tem seu limite e suas características pessoais.
Dois bons exemplos são as propagandas da Dove, «pela real beleza» e da Natura, «diversidade», que procuram mostrar a beleza individual de cada um, respeitando cor, raça, idade e biótipo. Campanhas «politicamente corretas» que valorizam o bem-estar sem fixar padrões rígidos de beleza, respeitando as origens, a idade e o momento de cada um. No site da Dove, inclusive, há uma seção de auto-estima e ênfase no uso dos produtos pelas «mulheres reais».
Já na Grécia antiga a preocupação com o corpo estava presente. Diziam os primeiros filósofos: «Mens sana in corpore sano» (Mente sã em corpo são). Hoje a Medicina confirma: os exercícios fazem mais pela pessoa do que apenas melhorar o visual. Atuam reduzindo a pressão arterial, regularizando a atividade cardíaca, diminuindo os níveis sanguíneos de glicose e gorduras (triglicérides, colesterol), reduzindo assim a mortalidade cardiovascular (por infarto, doenças coronarianas, hipertensão). Além disso, são comprovadamente benéficos para a mente, ajudando a manter a memória e a coordenação motora, além de diminuir os sintomas depressivos.
Como os antigos, acreditamos que é necessário um corpo saudável para manter uma mente saudável, e a mídia tem seu papel na formação da opinião pública. Ao mostrar pessoas saudáveis, os meios de comunicação estimulam hábitos saudáveis.
É lógico que a mídia não objetiva unicamente «o bem da humanidade». Tudo que mostra, tem o objetivo capitalista de vender imagem e estimular o consumo. Mas a sociedade pode tirar proveito disto em benefício próprio, filtrando as informações úteis e ignorando as que estimulam apenas o consumo.

Referências

MISKOLCI, Richard. Corpos elétricos: do assujeitamento à estética da existência. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 2007.
DOVE: Projeto Real Beleza - site institucional. Disponível em: Acesso em: 29 nov, 2007.
NATURA: Mulher Bonita de Verdade - site institucional. Disponível em: Acesso em: 29 nov, 2007.

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