CONSCIÊNCIA
Ézora Helena Silva Moreira
Temos visto ao longo da história os prejuízos incalculáveis causados pela omissão das pessoas diante das calamidades.
Seja o morticínio dos judeus pelos nazistas, o trabalho escravo nas lavouras canavieiras, a prostituição infantil, a mortalidade infantil nas aldeias indígenas ou a ausência de políticas públicas decentes para a saúde, fica a pergunta que se levanta a nós todos.
O fato de deixarmos de nos manifestar publicamente contra os desmandos, aos quais lamentamos particularmente, nos deixa mais seguros, melhor?
Tenho a impressão de que hoje o mundo sofre não só por falta de convicções firmes, mas também, por nossa timidez em externarmos as convicções que temos.
Nossa divisa muitas vezes parece ser: Mantenha a distância, não se comprometa. Deixe os outros tomarem a iniciativa.
Diante de todas as espécies de situações que reclamam corretivos, muitos dentre nós somos atacados de rouquidão moral.
Creio que todos nós, de uma forma ou de outra, temos crenças e costumes, mas em grande parte somos adeptos da tradição judaico-cristã, e já devemos ter lido ou ouvido falar de vozes como as de Jeremias e Ezequiel, Daniel e Miquéias, que destemidamente atacaram os males nacionais de modo objetivo e não genericamente. Vozes como a de Natã, que condenou cara a cara as culpas de um Rei. Vozes como a de João Batista, que denunciou a corrupção de uma corte, embora soubesse que isso lhe custaria a cabeça.
O cristianismo cresceu porque os seus adeptos não ficaram calados.
«Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos», diziam eles, e não se limitaram a exprimir a grande fé que haviam encontrado.
Investiram contra os males do seu tempo até que os próprios alicerces da decadente Roma começaram a desmoronar.
Está a Igreja fazendo o mesmo hoje em dia?
Antes, porém, de condenarmos os nossos líderes, devemos ver se nós, como indivíduos, estamos demonstrando coragem moral à altura das gritantes necessidades do nosso lar, do bairro em que vivemos, onde nossa influência é mais atuante.
Nada mais pesado de carregar do que a consciência da culpa de não haver agido e nem falado.
Ouço políticos que cedem às injunções partidárias, e votam a favor de projetos contrários às suas convicções, justificando ser enorme a pressão exercida sobre eles pelos interessados. Pressão? «Onde estão então suas resistências morais?»
Lamento quem nunca conheceu a revigorante emoção de manter uma posição. A coragem moral tem compensações que a timidez não imagina. Como uma dose de adrenalina dá novas forças ao coração, assim ele enche de vitalidade o espírito.
O devotamento às grandes causas faz grandes homens.
Ouvi certa vez uma palestra sobre humanização no atendimento à saúde, na qual a palestrante usou como exemplo de participação direta e funcional a questão da mortalidade infantil indígena. Citou que em determinada tribo as crianças estavam morrendo de fome, embora fossem enviadas cestas básicas para o local. Que um grupo determinado a desvendar os porquês foi para esta aldeia e descobriu que existia dentre outros costumes da tribo a hierarquia quanto a hora da refeição. Alimentavam-se de acordo com o tamanho das mãos. Primeiro as mãos maiores, e aí, até chegar a vez das mãos menores?
O ato de ver ouvir e falar, pode mudar tudo!
Para aqueles que não querem se envolver, com certeza enviariam um número maior de cestas básicas.
Diante dos males colossais da nossa sociedade, seria bom que adotássemos como divisa as seguintes palavras do escritor americano Bonato Overstreet: «Acho incontestável o direito que me cabe de escolher o lado sobre o qual deixo cair os poucos e obstinados gramas do meu peso. Eles tem mais valor do que precisamos. Pô-los em ação fortalece a nossa fibra moral e infunde coragem».
O poder de falar está à nossa disposição.
O mesmo Pedro, que se acovardou ante as acusações da criada de que ele era um dos discípulos de Cristo, foi depois, como muitos sabem, quem «virou o mundo de cabeça para baixo». Nosso mundo precisa ser «virado de cabeça para baixo». Até uma pequena minoria é capaz disso.
É preciso apenas que tenha fé e coragem.
(*) Ézora Helena Silva Moreira, presidente da Associação de Defesa dos Usuários da Saúde – ADEUS. Conselheira do Estado da Saúde.
Temos visto ao longo da história os prejuízos incalculáveis causados pela omissão das pessoas diante das calamidades.
Seja o morticínio dos judeus pelos nazistas, o trabalho escravo nas lavouras canavieiras, a prostituição infantil, a mortalidade infantil nas aldeias indígenas ou a ausência de políticas públicas decentes para a saúde, fica a pergunta que se levanta a nós todos.
O fato de deixarmos de nos manifestar publicamente contra os desmandos, aos quais lamentamos particularmente, nos deixa mais seguros, melhor?
Tenho a impressão de que hoje o mundo sofre não só por falta de convicções firmes, mas também, por nossa timidez em externarmos as convicções que temos.
Nossa divisa muitas vezes parece ser: Mantenha a distância, não se comprometa. Deixe os outros tomarem a iniciativa.
Diante de todas as espécies de situações que reclamam corretivos, muitos dentre nós somos atacados de rouquidão moral.
Creio que todos nós, de uma forma ou de outra, temos crenças e costumes, mas em grande parte somos adeptos da tradição judaico-cristã, e já devemos ter lido ou ouvido falar de vozes como as de Jeremias e Ezequiel, Daniel e Miquéias, que destemidamente atacaram os males nacionais de modo objetivo e não genericamente. Vozes como a de Natã, que condenou cara a cara as culpas de um Rei. Vozes como a de João Batista, que denunciou a corrupção de uma corte, embora soubesse que isso lhe custaria a cabeça.
O cristianismo cresceu porque os seus adeptos não ficaram calados.
«Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos», diziam eles, e não se limitaram a exprimir a grande fé que haviam encontrado.
Investiram contra os males do seu tempo até que os próprios alicerces da decadente Roma começaram a desmoronar.
Está a Igreja fazendo o mesmo hoje em dia?
Antes, porém, de condenarmos os nossos líderes, devemos ver se nós, como indivíduos, estamos demonstrando coragem moral à altura das gritantes necessidades do nosso lar, do bairro em que vivemos, onde nossa influência é mais atuante.
Nada mais pesado de carregar do que a consciência da culpa de não haver agido e nem falado.
Ouço políticos que cedem às injunções partidárias, e votam a favor de projetos contrários às suas convicções, justificando ser enorme a pressão exercida sobre eles pelos interessados. Pressão? «Onde estão então suas resistências morais?»
Lamento quem nunca conheceu a revigorante emoção de manter uma posição. A coragem moral tem compensações que a timidez não imagina. Como uma dose de adrenalina dá novas forças ao coração, assim ele enche de vitalidade o espírito.
O devotamento às grandes causas faz grandes homens.
Ouvi certa vez uma palestra sobre humanização no atendimento à saúde, na qual a palestrante usou como exemplo de participação direta e funcional a questão da mortalidade infantil indígena. Citou que em determinada tribo as crianças estavam morrendo de fome, embora fossem enviadas cestas básicas para o local. Que um grupo determinado a desvendar os porquês foi para esta aldeia e descobriu que existia dentre outros costumes da tribo a hierarquia quanto a hora da refeição. Alimentavam-se de acordo com o tamanho das mãos. Primeiro as mãos maiores, e aí, até chegar a vez das mãos menores?
O ato de ver ouvir e falar, pode mudar tudo!
Para aqueles que não querem se envolver, com certeza enviariam um número maior de cestas básicas.
Diante dos males colossais da nossa sociedade, seria bom que adotássemos como divisa as seguintes palavras do escritor americano Bonato Overstreet: «Acho incontestável o direito que me cabe de escolher o lado sobre o qual deixo cair os poucos e obstinados gramas do meu peso. Eles tem mais valor do que precisamos. Pô-los em ação fortalece a nossa fibra moral e infunde coragem».
O poder de falar está à nossa disposição.
O mesmo Pedro, que se acovardou ante as acusações da criada de que ele era um dos discípulos de Cristo, foi depois, como muitos sabem, quem «virou o mundo de cabeça para baixo». Nosso mundo precisa ser «virado de cabeça para baixo». Até uma pequena minoria é capaz disso.
É preciso apenas que tenha fé e coragem.
(*) Ézora Helena Silva Moreira, presidente da Associação de Defesa dos Usuários da Saúde – ADEUS. Conselheira do Estado da Saúde.
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