O QUE DIZEM OS MUROS


Mauro Hissayuki Utida

Gostaria que a queda do muro de Berlim fosse hoje. Aproveitaria o momento para destruir todos os muros sociais da minha região.
Não sou nenhum militante, ditador, nem mesmo tenho espírito de líder para influenciar tal atitude. Com visão urbanista, não vejo com bons olhos os muros, cercas ou outros obstáculos que certa parcela da sociedade utiliza para separar determinada área do restante da cidade.
Na história atual, temos alguns exemplos claros da negatividade que um muro traz para uma nação.
O muro que separa Israel do Líbano e o que separa os Estados Unidos do México, por exemplo, são dois casos de potências que tentam impedir a migração dos mais pobres ao invés de servir para proteção (que é a lógica principal de se construir um muro).
Dentro desta triste realidade de uma nação, podemos também citar o exemplo das cercas de arame espanholas que isolam o país africano Melilla de seus vizinhos. A ousadia espanhola foi tanta que os homens de Melilla se revoltaram no outono de 2005 e tentaram derrubar a barreira. A repressão foi violenta e muitas pessoas morreram.
Por falar em morte, lembremos dos exemplos do muro de Berlim, e das famílias que foram separadas por ele.
Após toda esta aula de geografia, fico intrigado com os muros na região onde moro, principalmente com os muros dos condomínios de luxo. As majestosas paredes que os empresários imobiliários levantam para proteger as mansões são um espetáculo à parte, como verdadeiros muros de castelos medievais. Sem mencionar que ainda hoje existe a tecnologia para vigiar os intrusos ou até mesmo queimá-los, vivos se for preciso, com as cercas elétricas.
Sim, voltamos ao pensamento medieval onde a monarquia vive separada do feudo, a qualquer custo.
Dentro dos condomínios fechados encontramos o modelo urbanístico ideal onde muitos desejariam morar. Casas com jardins abertos e sem muros para separar a vizinhança. O engraçado é que muitos políticos que administram nossa cidade moram em locais assim. No entanto, para desenvolver um projeto para nossa cidade eles planejam o contrário.
Sei que o problema é econômico, cultural, histórico, antropológico, dentre outros motivos. Mesmo assim acredito que viver em grupos isolados só aumenta a discriminação e a desigualdade no Brasil.
O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, vencedor do prêmio Pritzker 2006 de arquitetura, criticou a Vila Universitária da USP. Para o arquiteto, o muro que foi construído para separar a Vila Universitária de São Paulo prejudicou a interação dos estudantes com o centro da cidade. Ele explica que antes do muro ser construído os estudantes estavam mais integrados com a sociedade e a sociedade com eles.
Este fato pode servir de exemplo aos moradores de condomínios, onde a interatividade com as pessoas de sua cidade é muito pequena. Podem não gostar, porque morar isolado pode parecer mais seguro e confortável, mas para mim é tudo muito desolador.

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