A ARQUITETURA DE UM PONTO DE VISTA SOCIAL


Reinaldo Sampaio Pereira

A busca pelo bem-estar, pelo bem viver, afigura como eficiente instrumento de propaganda para a venda de produtos e serviços. Com isso, torna-se manifesta a procura por uma boa vida. Busca-se o bem viver através da alimentação saudável, dos diversos tipos de ginástica, das facilidades e comodidades cotidianas, enfim, dos mais variados modos.
De certa perspectiva, uma das finalidades também de diversas disciplinas de humanas é pensar em como é possível promover o bem-estar das pessoas, mediante a boa organização social. Partindo do pressuposto que quanto mais organizada uma sociedade tanto maiores as chances da sua maior parcela viver bem, torna-se forçoso, se se quer o bem-estar dos indivíduos, organizar a coletividade. Para tal, é mister pensar a boa organização social de uma multiplicidade de aspectos, como o estabelecimento de boas regras, tanto éticas quanto jurídicas (que possibilitem uma sociedade harmônica), ou então uma boa ordenação econômica, política e social.
Outro aspecto de extrema importância a ser pensado para o bom ordenamento social diz respeito à disposição do espaço físico onde a sociedade se aloca. Em certa medida, a disposição física das cidades é um dos determinantes de aspectos culturais, econômicos, políticos e sociais. A instauração de fábricas, aeroportos, estradas, cinemas, por exemplo, ajuda a determinar as feições políticas, econômicas, sociais e culturais de uma comunidade. Se a Arquitetura tem como uma das suas funções pensar a funcionalidade das construções, e se a funcionalidade das construções pode refletir na boa disposição física da cidade, e se tal disposição tem reflexos nos aspectos culturais, econômicos, políticos e sociais, e se todos esses aspectos refletem a boa ou má organização do grupo social, portanto determinando direta ou indiretamente em muito o bem ou mal estar dos indivíduos, quer então nos parecer que podemos pensar a Arquitetura a partir do bem-estar do indivíduo. Pensar a funcionalidade das construções, nesse sentido, ganha dimensão social.
Mas não apenas no sentido de bem organizar a sociedade a Arquitetura pode mostrar os seus benefícios. Ela se coloca à disposição para a criação de grandes obras para desde a demonstração da grandiosidade de um império até mesmo revelar o grau de desenvolvimento cultural de uma civilização. Lembremos, para ilustrar, as pirâmides do Egito, a Acrópole na Grécia ou então o Coliseu em Roma. Mas a Arquitetura não espelha apenas grandiosidade ou «refinamento cultural». Ela parece trazer, no bojo das suas finalidades, certo afinamento com uma das finalidades da Estética, qual seja, a promoção do prazer, sobretudo o visual.
Se o prazer é um acompanhante para o bem viver, ou, como queria Aristóteles, se o prazer é um acompanhante natural da felicidade, buscar o prazer é encaminhar-se para o bem viver. O homem, tendo a percepção que a visão é um dos sentidos que pode proporcionar prazer, em muito pensa as suas ações e produções também do ponto de vista estético, procurando a bela produção e as belas ações, as quais engendram prazer.
Se a Arquitetura se preocupa com a estética das construções, então, também dessa perspectiva, ela proporciona bem-estar ao produzir o belo (não vamos aqui entrar na discussão da relatividade do que é o belo, que o que é belo para al-guém não necessariamente o será para outro, uma vez que a beleza ou fealdade não pertencem às coisas, mas nós que as depositamos nos juízos que fazemos sobre as coisas, quando emitimos juízos estéticos acerca delas). Poder aliar funcionalidade e estética na estrutura física das cidades pode gerar bem-estar para a sociedade. Nesse sentido, pensar a boa organização social pode implicar pensar a cidade também do ponto de vista da sua Arquitetura.

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