APRESENTAÇÃO


Flavio F. A. Andrade

Sentir, compreender e vivenciar melhor toda a forma de arquitetura através das artes e das construções que nos rodeiam. Esta é a principal proposta desta edição especial. Se atingirmos este objetivo, todo o nosso esforço em proporcionar uma análise diferenciada sobre as belezas arquitetônicas não terá sido em vão.
«Arquitetura é imaginação e, principalmente, beleza. Vai além de espaços e volume: importante é o espetáculo.» Esta afirmação de Oscar Niemeyer expressa nossa preocupação em proporcionar um pouco mais de reflexões que vão além da parte material, a respeito da arquitetura e daquilo que a envolve. O que falta para a maioria das cidades do Brasil é o que de mais belo existe nos trabalhos de Oscar Niemeyer: a caracterização de sua obra, aquilo que dá personalidade ao local onde ela foi construída. Este problema que acomete os espaços urbanos é visto por alguns arquitetos especialistas no assunto como algo extrema-mente ameaçador para o modo como a cidade é observada. Podemos citar como exemplo a cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, que carece de estilo próprio. Falta algo que a represente de forma marcante. Alguns destes aspectos sobre a arquitetura e suas funções são analisados e podem ser melhor compreendidos nas próximas páginas.
O aspecto artístico da arquitetura está presente em todo este livro-revista. O professor doutor Juan Droguett nos contempla com um ensaio inédito que faz refletir sobre problemas teóricos e práticos relacionados à arquitetura. Droguett surpreende mostrando a conexão que a arquitetura mantém com a vida e a morte. Na seção Cinema, indica as relações existentes entre cinema e arquitetura e decorre sobre alguns exemplos clássicos da tela. Droguett constrói este ensaio com base no diálogo entre a arquitetura (arte milenar) e o cinema (arte contemporânea).
Na seção Filosofia, o professor Reinaldo Sampaio Pereira nos oferece uma aula de civilidade ao explicar de que maneira a busca pela estética na arquitetura pode influenciar no bem-estar das pessoas e suas projeções na arte de construir. Também em «A contemplação dos cenários urbanos» é possível observar, a partir de nosso ensaio, algumas representações possíveis da arquitetura em nossas vidas.
Este número traz também uma proposta diferente na seção Revele-se, produzido no subúrbio e no centro da cidade de São Paulo. Fábio Portugal chama a atenção para a falta da estética, desprezada pelo poder público e pela população que sofre com a falta de moradia digna.
O mesmo tema é abordado na editoria Cidade, registrando o descaso em Jundiaí. Os problemas urbanísticos vão se multiplicando, sufocando a beleza que existia numa época em que a cidade era melhor assistida pelo poder público. O jornalista Cadu Villa Lobos expõe o outro lado de uma Jundiaí que costumamos ignorar.
Andréia T. Couto faz um relato de suas andanças por Buenos Aires e comenta porque a arquitetura, a gastronomia, a literatura e o tango são excelentes motivos para conhecer esta cidade instigante, aconchegante e inspiradora. Ainda na seção Viagem, destaque para o artigo Buenos Aires sob a neve, escrito por Ieda Cavalcante dos Santos, que descreve em primeira pessoa sua visita à cidade conhecida por sua arquitetura charmosa e estilo europeu marcante, porém ainda desvalorizada por muitos brasileiros que preferem destinos europeus.
José Marabezi, correspondente em Nova York, desta vez parte para um passeio alternativo pela Europa, e visita Estônia, Rússia, Lituânia, Dinamarca e Suécia, países com cultura e arquitetura milenar, desconhecida por turistas desavisados. Oportunidade perfeita para aprendermos mais sobre a ligação entre a arte arquitetônica do oriente e do ocidente.
E por falar em Europa, a professora Cristina Tischer Ranalli aproveita a temporada que passou na Cidade Luz para fazer um paralelo entre a literatura de Victor Hugo e a arquitetura representada na Catedral de Notre Dame de Paris. Avaliação indispensável para entendermos melhor a relação da arquitetura com o ser humano e suas expressões. O jornalista correspondente Reinaldo Reigrimar narra em Diário de um imigrante em Londres uma história pessoal vivida enquanto trabalhava numa mansão no subúrbio da Inglaterra. Esta crônica nos remete de forma sutil à temática desta edição, em revelações que o autor faz sobre sua viagem pelo mundo da construção civil.
Na seção Ensaio, o fotógrafo brasileiro Aleandro do Carmo, em parceria com Reigrimar, retrata a arquitetura futurista, ressaltando uma Londres moderna, sinuosa. Visão contemporânea, em um ensaio textual e fotográfico do «velho» mundo, diferente da abordagem usual da capital inglesa.
Griffespaços – parte de uma série de publicações temáticas da revista Griffe – não somente discute e registra a arquitetura de casas e cidades. É também um guia, que nos orienta para melhor compreendermos a relação com os espaços em que vivemos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A viagem de Platão a Siracusa

O continente branco: viagem ao fim do mundo

Livros