O VERÃO MAIS CELEBRADO DA TERRA


REINALDO REIGRIMAR*

Nossas sandálias de borracha estão pisando esse chão e falando outras línguas. Nossa bandeirinha colada no chinelo mais famoso do mundo se torna um acessório nos pés que já estão expostos. O verde tem sua cor forte, inigualável. O verde mais intenso que já admirei. As gramas em seu espaço quase infinito. As árvores com toda a folhagem nova, de até três meses de idade, me fazem parar alguns minutos e olhar essa bela obra da natureza. Isso tudo é sinal de que o verão chegou no hemisfério norte.
As vitrines estampadas de flores, as mesmas nos jardins e parques. O colorido tomou conta e até o céu mudou de cor. Nessa ilha, seria incorreto falar com tanta precisão a respeito do céu. Aqui as nuvens vêm e vão. De repente, o céu é coberto com um denso cinza. É instantâneo a mudança nas pessoas também. De súbito, os casacos cobrem aquela mini-saia ou aquela camiseta de horas atrás.
Assim é todo o começo de verão em Londres. Não deixa de ser o mais esperado e comemorado do mundo.
É meio-dia de uma terça-feira, mais conhecido como “lunch time”. Todos os edifícios têm suas cozinhas e cantinas, todas as obras também têm suas dependências para a hora do almoço. Mas elas ficam vazias.
Todos vão para o Parque desfrutar dessa “uma hora” deitados em gramados limpos e bem cuidados. Os lagos repletos de vida. Muitos marrecos e pelicanos. O dia fica muito mais agradável, fazendo um piquenique ao meio dia, de um dia qualquer. Alimento os esquilos com os farelos do meu sanduíche, eles vêm comer na mão. Deito para descansar as costas e o que vejo é uma mistura de verdes folhas e o céu e suas luzes brigando por um espaço em meus olhos. Fico ali parado e renovo minhas energias. Aquilo tudo me inspira idéias.
De óculos escuros, sigo minha caminhada pensando que todos resolveram sair ao mesmo tempo de casa. As ruas estão lotadas. Os vendedores ambulantes vão tentar conquistar os seus lugares nesse sol. As feiras ao ar livre são uma opção de lazer, principalmente aos domingos. A feira de Vauxhall é a mais conhecida e procurada de Camden Town. Todos os estilos. Todos os cabelos, de punk a skinhead. Todos os piercings e tatoos. Todos os hippies e seus acessórios. Todos os roqueiros e seus panos pretos. Todos os hard core, todos os andróginos e suas músicas eletrônicas, sem falar em um grupo Hare Krishna com seus batuques e sorrisos no rosto que acaba de passar por mim.
O verão mais festejado da Terra traz em seu roteiro os maiores festivais do mundo. Destaque para o festival de música eletrônica AntiWorld que acontece em julho. Todos os melhores Djs e bandas eletrônicas ao vivo em diversos palcos. Uma espécie de Woodstock da música eletrônica. Os festivais de rock e música pop também estão com os ingressos esgotados. O Live Earth, o maior da estação, acontece nos quatro cantos do mundo. A Praia de Copacabana foi palco de um dos shows, que tem as proporções do Live 8, ocorrido há dois anos com objetivo de ajudar a África. O Live Earth em Londres contou com Madona, Red Hot Chilli Peppers, Cold Play, Genesis, Snow Patrol, Oasis, Black Eyed Peas e muitos outros com um único intuito: falar para o mundo sobre os problemas do aquecimento global.
Com o ventilador ligado, termino aqui mais uma página desse meu diário. O sol batendo na janela aberta. Lembro da música de Renato Russo: “Quando o sol bater, na janela do seu quarto, lembra e vê, que o caminho é um só.”

(*) Reinaldo Reigrimar reside atualmente em Londres.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A viagem de Platão a Siracusa

O continente branco: viagem ao fim do mundo

Livros