O RESPEITO (OU A FALTA DELE)


JEVERSON BARBIERI

O homem contemporâneo tem apresentado nas últimas décadas um individualismo exacerbado. Por conta da tecnologia que evolui na velocidade da luz, ele pensa que pode tudo a partir de um simples controle remoto. Aciona portões, elevadores, televisores, aparelhos de som, computadores, movimenta contas bancárias, celulares, enfim, tudo que a tecnologia moderna permite.
Por conta dessa escravidão da tecnologia moderna o homem vem a passos largos deixando de lado, creio eu, a coisa mais importante, que é o relacionamento humano.
É muito comum observar pessoas que trabalham na mesma empresa ou moram no mesmo bairro ou condomínio, que não são capazes sequer de olhar na cara do vizinho com o simples propósito de cumprimentá-lo. Uma parcela muito grande da população mundial vive preocupada com a própria vida, numa busca incessante de bens materiais e riqueza que possam suprir as necessidades suas e de seus familiares. Além disso, essa corrida do ouro fez com que o homem moderno abandonasse velhos e importantes costumes como a reunião familiar, a conversa, as risadas, a convivência humana, a resolução de problemas de maneira conjunta.
Outro ponto importante que deve ser objeto de reflexão é a questão do trabalho voluntário. Quantas vezes ouvimos as pessoas dizendo que de graça não trabalham para ninguém. Para isso, bastava que essas mesmas pessoas olhassem para o que eu chamo de “espelho da vida”. Seria o suficiente para perceberem que muitas pessoas, a começar de nossos pais, graciosamente trabalharam em prol de nosso desenvolvimento. Um exemplo bastante próximo de nós são as campanhas de doação de sangue. Medo de agulha e medo de contaminação são as desculpas mais comuns para que as pessoas não doem sangue. Esse medo acaba quando alguém que amamos muito precisa de nós. Nesse momento percebemos que poderíamos ter feito mais por outras pessoas.
Existe um outro exemplo que gosto muito de citar. Estacionamento de supermercado. Como é fácil descarregar as compras em nosso carro e depois deixar o carrinho na vaga ao lado atrapalhando o próximo que irá estacionar. Como é fácil colocar o carrinho atrás de outro carro estacionado. Como é fácil empurrar o carrinho para qualquer lugar até que ele bata em outro carro e danifique a pintura. Como é difícil usar a articulação das pernas e levar o carrinho até os pontos demarcados pelo supermercado. Como é fácil dar a desculpa que o supermercado tem pessoas que recolhem os carrinhos.
E por falar em carros, quanta gentileza temos no trânsito, não é mesmo? Quando alguém sinaliza pedindo para entrar é muito comum vermos motoristas educados dando passagem não é mesmo? Os condutores são capazes de olhar para sua cara e ignorar seu pedido, certamente crendo que chegarão muito antes ao destino. E o que dizer de nossos amigos motociclistas? Recebi um e-mail dizendo que motociclistas são como políticos. Vivem fazendo coisas erradas, ficam irritados quando advertidos e quando acontece alguma coisa com um deles, todos se juntam para ajudar. É para refletir!
Ficamos preocupados com as notícias sobre a degradação do meio ambiente, com o aumento da temperatura, com a poluição do ar, porém, a nossa tarefa de casa não está sendo feita de maneira correta. Ainda não temos a cultura da separação do lixo nos nossos lares. A reciclagem é muito importante. Usamos sacos plásticos em alta escala para descartar o lixo, sem saber que eles, nos aterros sanitários, selam o solo impedindo a passagem da água de chuva. Misturamos lixo orgânico com reciclável no mesmo recipiente. Jogamos óleo utilizado na rede de água, quando poderíamos reciclar e transformá-lo em biodiesel.
O leitor certamente deve estar concluindo que sou um super-homem, cumpridor das boas regras e normas, um motorista nota dez, uma pessoa correta que sempre toma as decisões corretas. Que nada! Sou comum, normal, como qualquer um de nós, com muitos defeitos. Mas procuro, na medida do possível, observar meus erros e corrigí-los, principalmente porque todos eles estão baseados no respeito. Respeito ao próximo, respeito à vida, respeito às regras, respeito à natureza.
Creio que, seguramente, além de amor e carinho, o respeito é o valor que devemos deixar aos nossos filhos e a geração futura. Somos o espelho que reflete aquilo que mais verdadeiro existe para eles!

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