A ARQUITETURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO

FLAVIO F. A. ANDRADE

Ao construirmos casas e edifícios estamos criando, na verdade, uma mutação constante nas cidades. Especialistas chamam este processo de personificação da arquitetura. Esta mudança decorre de vários fatores, dentre eles o principal certamente é a atmosfera histórica adquirida ao longo dos anos através de contemplações diárias deste conjunto arquitetônico que constitui as cidades. Outro fator determinante é a harmonia entre homem e casa, decorrente dos adornos projetados através da estética decorativa individual. Cada objeto decorativo ou mesmo expositivo de uma construção irá atuar como extensão da estrutura, antes inanimada, e que adquire, por meio destes adornos, uma interação com o morador.
No livro Leitura Sem Palavras, capítulo “Comunicação enquanto prática cultural”, Lucrécia D'Aléssio Ferrara explica que “toda prática humana está inserida numa situação mais ampla, na medida em que se instala como elemento interferidor nos sistemas social, econômico e cultural, seja para confirmá-los, seja para alterá-los. Entretanto, o padrão dessa inserção, para ser conhecido, é, necessariamente, representado através de signos. O modo dessa representação revela a ação do sistema socioeconômico-cultural sobre nossos pensamentos.” Contudo, explica a autora, “essa estrutura informacional não precisa ser, nem é exclusivamente verbal. O traje usado para cobrir o corpo, o meio de transporte adotado não são de ordem estritamente funcional, ao contrário, dizem, sem palavras, nossas preferências, explicitam nossos gostos.”
É neste contexto de signos e comunicação sem palavras que a arquitetura comunica conosco. A partir de sua ornamentação, construída a princípio por nós mesmos e posteriormente incorporada por aspectos urbanos, é que prédios, casas e monumentos interagem com a sociedade. Do mesmo modo como usamos a arquitetura como expressão de nossos Eus (Alain de Botton), assim a arquitetura expressa sua força e personalidade.
“Acho que, num mundo perfeito, podemos usar a arquitetura para expressar nossa personalidade – como tudo que nos cerca. A vida perfeita é aquela onde o casamento, a casa, as roupas, o trabalho, refletem quem somos” (Alain de Botton – em A Arquitetura da Felicidade).
Esta arquitetura que comunica através do não-verbal não se limita apenas a edifícios belos e caros. Para Alain de Botton a arquitetura não deve ser pensada como um luxo. “Ela é parte da nossa vida, como as amizades e o trabalho - e não precisa ser cara. Acho que os arquitetos têm de pensar em projetos que deixem nossas cidades menos tristes e tragam o melhor do ser humano. Assim, ficaríamos mais perto de um mundo melhor e a um passo da felicidade.”
Como exemplo do oposto ao luxuoso temos as favelas, as periferias. Na visão da arquiteta Ana Fani Carlos “A periferia não é só sobrevivência, o lugar onde você só sobrevive - é o lugar da vida. Então, os atos da vida cotidiana são atos criativos do indivíduo. Se eu disponho só deste salário, deste tipo de material, eu vou produzir a casa, do jeito que eu quero”.
Da mesma forma que as favelas se comunicam com a sociedade, os arranha-céus falam aos transeuntes que passam “aos seus pés”.
No Brasil, a arquitetura é dominada principalmente por favelas e grandes aglomerados. Por este motivo, temos aqui uma maior expressão da arquitetura horizontal.
Em outros países, como os Estados Unidos e Taiwan, a arquitetura vertical é mais valorizada. Os altos edifícios representam superioridade, sendo uma espécie de personificação do poder.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A viagem de Platão a Siracusa

O continente branco: viagem ao fim do mundo