O FANTASMA DA ÓPERA

Cristina Tischer Ranalli

Le Fantôme d l´Opéra, O Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux (1869-1924), é uma obra-prima da literatura francesa, publicado pela primeira vez em 1911. Em 1924 esta obra foi adaptada para a película e a partir daí ganhou muitas outras adaptações na história do cinema, bem como na história do teatro, pelo mundo todo. A versão mais famosa é de Lloyd Webber, compositor britânico, que fez a mais conhecida adaptação do livro para o teatro. Em Londres, a peça é apresentada desde 09 de outubro de 1986 no teatro Her Majesty´s e finalmente chegou ao Brasil em 21 de abril de 2005 no Teatro Abril, São Paulo. Todavia, Webber não se satisfez apenas com a linguagem teatral e em 2004 lança a adaptação cinematográfica da obra de Gaston Leroux.
A história gira em torno de um triângulo amoroso entre Christine Daaé, Raoul (o visconde de Chagny) e o Fantasma (Erik) numa locação propícia ao romantismo e ao suspense: L´Opéra de Paris. O triângulo amoroso é um tema recorrente na literatura mundial. Eça de Queirós escreveu O Primo Basílio, Machado de Assis redigiu A Cartomante, Camilo Castelo Branco elaborou Amor de Perdição, entre tantos outros autores. Mas o que realmente encanta em O Fantasma da Ópera de Webber? Talvez seja o fato de visualizarmos que o Fantasma não é um fantasma, mas uma pessoa marginalizada por apresentar uma aparência deformada. Como a sociedade não costuma aceitar o “diferente”, ele se priva do contato humano para não se desgastar com as hipocrisias sociais. Porém, como é um ser humano, apaixona-se por Christine Daaé, bailarina e cantora do Ópera de Paris.
O Fantasma é um ser dicotômico capaz de qualquer coisa pelo amor que sente por Christine. Ele é romântico, protetor e gentil quando está com a amada, entretanto é cruel, agressivo e malvado quando se sente contrariado por quem quer que seja. Esta dicotomia entre o bem e o mal também é natural da raça humana, já que todos temos sentimentos virtuosos e sentimentos de perversidade. Partindo desse pressuposto, então, não podemos julgar as atitudes do Fantasma, uma vez que ele age conforme seu valor ideológico, como qualquer ser humano.
Gaston Leroux certamente foi influenciado pela filosofia de Hippolite Taine (1828-1893) autor da teoria determinista. Taine via a criação artística como resultado de três fatores principais: a raça, como elementos da hereditariedade; o meio ambiente, o convívio social; e o momento histórico. O Fantasma segue a estrutura de personagem determinista, já que apresenta um comportamento que reflete os três principais fatores do determinismo de Taine. O Fantasma, europeu, recebe uma herança genética de deformidade – embora haja duas versões para justificar a deformidade física dele –, o meio em que ele vive é hostil – vive escondido da sociedade nos subterrâneos do Ópera de Paris –, e o momento histórico é de florescimento da arte e da ciência, o que faz dele um maestro e compositor, uma vez que passa a vida ouvindo apresentações de óperas no teatro em que se esconde.
Erik, o Fantasma, é fruto de seu meio e interage com a sociedade que o circunda da mesma forma com que a sociedade em questão interage com ele. As atitudes são moldadas conforme a necessidade, por isso ele é tão dicotômico. A literatura, como representação artística da sociedade, mostra, mais uma vez, como o ser humano pode ser moldado de acordo com as necessidades do meio em que vive. Todos nós agimos e reagimos de acordo com as imposições sociais, conforme a ideologia dominante, de acordo com as conveniências da nossa história de vida. Você duvida? Faça uma reflexão sobre sua vida sob outro prisma.

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