MANUAL DE RELAÇÃO E ESTÍMULO DA REVISTA GRIFFE

Flavio F. A. Andrade

apre.sen.ta.ção [pl.: -ões] s.f.

O Manual de Relação e Estímulo é, na verdade, uma compilação de reflexões filosóficas sobre jornalismo, política, economia, arquitetura, filosofia, religião, cultura e outros assuntos do dia-a-dia. Contém ainda comentários sobre televisão, cinema e arte. Os textos aqui reunidos são trechos revisados de artigos já publicados e estão relacionados entre si, embora não pareça num primeiro momento: refletem o cotidiano brasileiro. Uma época regada a curiosos costumes retratados em conceitos críticos. Assuntos que permanecem contemporâneos em edição especial, para ser lida e guardada.
Se você é leitor da Griffe, pretende ser nosso colaborador ou apenas quer conhecer melhor nosso ponto de vista, não deixe de seguir em frente.
Como foi dito no início deste livro: sempre vão existir erros. Bom é que existem também os críticos dos críticos. Só assim poderemos, um dia, corrigir nossas imperfeições. “Certamente que muito errei, porém isso não deve ser muito desculpado pra quem se mete num novo roteiro...” (Mário de Andrade em Amar, Verbo Intransitivo)



á.gil adj.2g. 1 “Mach es kurz! Am Jungsten tag ist's Nur ein furz!” (Seja breve! No dia do juízo isso não vale um peido! - Goethe)
2 A necessidade de ser objetivo e claro é requisito indispensável na sociedade “não tenho tempo pra nada”. Com esta máxima tentarei demonstrar o mais rápido possível a complexidade proposta por veículos e pessoas. Ou algo neste sentido. Pretendo ilustrar sobre a brevidade das coisas (leia os livros de Shakespeare e descubra porque ele era um especialista no assunto). A primeira coisa a saber é em que momento ser breve.
Um bom exemplo é quando estamos com muita raiva de alguém e expressamos esta fúria objetivamente. Não podemos dizer que vamos “derrubar com mortais intenções.” Dizemos sem cerimônias: “vou cair matando.” Se numa negociação você não concorda com nenhum dos pontos apresentados, e lhe perguntam se o negócio está fechado, de maneira alguma podemos dizer: “sequer considerar a possibilidade da fêmea bovina expandir fortes contrações laringo-bucais.” Fale brevemente. “Nem que a vaca tussa!” Da mesma forma que não dizemos: “sequer coincidir a utilização de um longo pedaço de madeira.” O ideal neste caso seria: “nem a pau!” Quando você está numa festa e algo imprevisto e vergonhoso acontece, você pagou um mico, você não “rompeu a fisionomia.” K
Estes ditados populares e clichês são perigosos. Existem estes problemas em querer ser breve. O lugar-comum. A utilização de frases feitas. Aí, de prolixo, você passa a ser chamado de preguiçoso. Na sociedade contemporânea não há tempo para prolixidade. Melhor dizendo, para rodeios desnecessários.
Breve e objetivo. Diga algo com objetividade. Vá direto ao assunto. Não enrole. Vá direto ao que interessa. Vai vender uma casa? Seja Breve. Vai comprar uma casa? Seja breve. Os jornais sabem ser breves. Os classificados são bons exemplos. Não há muito espaço e a palavra de ordem é faturar. Com esta filosofia como base, quanto mais anúncio melhor. Resultado: seja breve.
Lembremos que há uma relatividade na questão da objetividade. Quando devemos ser breves? Quando devemos ser prolixos? Este é o perigo. Se você me diz para ser objetivo, e apenas isso, o que devo pensar? Me explique longamente sobre esta objetividade requerida! Prolixo ou coeso. Creio que existem situações para os dois. Quando e por que só a ocasião determinará. ¾
a.pa.rên.cia s.f. Vamos começar do início. Alguém aí acredita que o ser humano é uma evolução do macaco? Não é possível. Eu não vim de macaco nenhum. Esta teoria de que a gente se originou de animaisò é no mínimo estranha.
O engraçado é que existem pessoas que se parecem com animais. Uns se parecem com cachorros, macacos e até com gatos.
ar.te s.f. A arte a e a cultura se resumem hoje a um monte de releases jogados nas páginas dos jornais e ou transformados em simples notas. Salvo algumas revistas e emissoras de TV que ainda acreditam na importância desta editoria. Se antes a crítica permanecia apenas nas academias, hoje nem isso. Nas universidades os alunos estão cada vez mais sendo desencorajados a estudá-la ou a praticá-la. Vejo isso o tempo todo.
Seria reflexo de uma sociedade fast food? Poderíamos pensar que sim numa análise superficial, ao levarmos em consideração as publicações em revistas que primam pelo texto curto, prejudicando o entendimento da notícia, que fica aquém do esperado. D
A cultura foi a primeira das editorias a ser reduzida. Por uma questão simples: sempre foi menos valorizada por editores, dita dispensável. Mas a crise no jornalismo continuou e as editorias “política”, “saúde” e agora o “cotidiano” vão sendo reduzidas a simples notas superficiais. Não vejo a redução de textos como um caminho sem volta. É mais um trajeto mal feito, decorrente da influência dos grandes veículos de comunicação ávidos por ganhar dinheiro (vide a primeira página dos cadernos de cultura dos dois maiores jornais do país). Algumas revistas ainda conservam a linha do “pensamento completo” e são destinadas para quem de fato gosta de ler. Desde modo conseguem manter a crítica, a arte e a cultura como merecem ser tratados. “A arte está em crise porque se prende inteiramente ao mercado” (Frans Krajcberg).
ar.qui.te.tu.ra s.f 1 Os americanos são os marqueteiros mais sábios do planeta. Não é sem razão que a maioria das pessoas quer ir para Nova York conhecer suas pontes, estátuas e arranha-céus. E se por um lado atraem muitos turistas, por outro seduzem trabalhadores, e todo o tipo de gente que quer ganhar a vida neste “país das maravilhas”. Viver nos Estados Unidos é um sonho. Mas por quê?
Divulgação. Ý Logo que pensamos neste tema, quem nos vem à mente são os americanos. E com razão. O mundo tem conhecimento do que acontece nos Estados Unidos principalmente por causa dos filmes.
O Empire State Building, o prédio mais conhecido no mundo, só conquistou este título por causa dos filmes americanos. A fórmula de fazer filmes valorizando as cidades e seus símbolos é o que determina esta posição.
Esta disputa por símbolos sempre existiu em todo o mundo. Estamos sempre querendo construir o mais belo símbolo para uma cidade, algo que represente nossa identidade. Por possuir uma gigantesca indústria cinematográfica e saber utilizá-la, não há país que fique à frente dos americanos quando o assunto é divulgar sua arquitetura. Sabem utilizar a arquitetura para gerar curiosidade e consequentemente lucros.
2 Por que construir a capital brasileira dos jogos? Porque um tipo de diversão muito apreciada por milhares de brasileiros está cada vez mais difícil de ser encontrada. São os bingos. Lugares onde se concentram muitos tipos de jogos de azar, ou de sorte, como queiram chamar. Os bingos ¨ de São Paulo sempre são proibidos de funcionar.
É um absurdo proibir estas casas de jogos. A decisão apenas aumenta a clandestinidade. O jogo sempre foi uma realidade brasileira e a tentativa de proibição também. O jogo do bicho, mesmo proibido, sempre funcionou. E há muito tempo percorre os subúrbios de todo o país sem problemas.
Ao ouvir qualquer notícia sobre proibição dos bingos, me lembro de Juscelino Kubitschek, o maior presidente que o país já teve, e imagino idéias.
Brasília e Las Vegas são cidades com algumas coisas em comum. Ambas construídas no meio de um deserto, e que em poucas décadas se transformaram em cidades turísticas. Vegas é responsável por boa parte dos lucros‘com turismo nos Estados Unidos, infinitamente mais que Brasília.
São idéias como esta que o Brasil precisa. Todos os presidentes deveriam ser como JK. Ao invés de ficarmos proibindo jogos e casas de bingos, gastando tempo e dinheiro, deveríamos construir a Las Vegas Brasileira. Uma cidade planejada, com arquitetura moderna e futurista, para abrigar nossas casas de jogos.
Falta ao Brasil presidente com a mesma ousadia daquele que construiu Brasília. Com idéias revolucionárias, de visões a longo prazo. A capital brasileira nasceu para desenvolver uma região desértica, hoje considerada Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Humanidade. Chamem Ruy Ohtake, Oscar Niemeyer, e construam a Vegas Brasileira, em qualquer um dos muitos desertos existentes neste imenso país.
ci.ne.ma s.m. O homem de aço e está de volta. O motivo? Provar que é o ícone, um santo salvador que a Terra necessita. Um deus da modernidade. Hércules do século XXI. Nosso protetor. O filme Supermam - O Retorno, clássico do entretenimento, lotou as salas de cinema no Brasil. E como sempre acontece neste tipo de filme, está repleto de muita destruição, ameaça à cidade de Nova York, e mocinha indefesa em perigo.
Mas Supermam - o Retorno é diferente. Não tem tanta violência gratuita, apenas para entreter. Parece até que ela às vezes nos falta quando comparada com os filmes anteriores. O romance prevalece boa parte do filme. Clark Kent sempre foi apaixonado por Lois Lane. Mas agora o amor dominou as cenas.
Quando Clark retorna à Terra, depois de seis anos afastado, depara-se com uma situação que jamais esperava. Lois está casada e tem um filho. A partir deste momento ele vai utilizar todos os seus poderes para reconquistar Lois.
Outro fator que torna este filme diferente é o bandido. A careca continua a mesma, mas Lex Luthor está mais bonzinho. Diferente dos outros bandidos, que manipulavam e ameaçavam a sociedade. É claro que ele teria matado bilhões de pessoas se seu plano desse certo, só que sutileza não fazia parte dos filmes de Supermam. Agora faz, e parece que outras produções estão adotando a mesma receita. Ao invés de mostrar, apenas sugerem. Algo que apenas era visto em filmes alternativos, começa a contagiar mega-produções. Bom para o espectador, que terá oportunidade para usar a imaginação.
Filme bem elaborado, efeitos ótimos, tudo muito perfeitinho. O homem de aço continua o mesmo em sua essência. Solitário, um pouco mais apaixonado, mas não sendo correspondido, com o propósito de sempre: proteger a humanidade do mal. N
As pessoas o amam. É a estrela. O herói que precisamos. O nosso salvador. O homem de aço é tão caridoso, prega tantas coisas boas, que até dá uma bronca em Lois Lane por estar fumandoz. Ponto positivo para Hollywood, que sempre incentivou o consumo de cigarros.
As guerras, mortes e violência sempre vão existir. Mas e os Super-Homens? Estes, nem sempre estão por aqui quando precisamos. h
es.por.te s.m. 1 Paixão ª nacional, paixão internacional, o futebol conquista bilhões de pessoas. No Brasil, todos. Muitos sonham em ser um dia jogador famoso. Até eu já me atrevi a percorrer o estranho e fascinante mundo do futebol. Talvez não tivesse talento para o esporte. O fato é que nunca saberei o que teria acontecido comigo se tivesse continuado. Naturalmente estas e muitas outras dúvidas povoam nossas cabeças quando seguimos um caminho e não outro.
Desde que nascemos somos acondicionados a torcer pelo mesmo time de nossos pais. Quando crescemos, já estamos defendendo com sangue nosso time preferido. Futebol para o brasileiro é como amor de Romeu por Julieta.
2 O futebol é responsável pela maior parte da receita das TVs. Este esporte perde apenas para as novelas das oito. Jogo de futebol é tão fascinante que quando a Seleção Brasileira entra em campo numa Copa do Mundo, o Brasil pára. É feriado, ponto facultativo. Os jogos são tão importantes para as emissoras de TV que a Globo “encomendou” no ano passado um amistoso com a Seleção só para comemorar os 30 anos da emissora. Não sei quem comanda quem neste país. Apesar de tudo funcionar aparentemente bem, como diria Antônio Abujamra: “as TVs ainda não descobriram como explorar o futebol”.
3 O mais importante numa competição não é exatamente a vitória, mas os minutos que antecedem o resultado. Não vencemos apenas quando subimos ao pódio para receber o troféu%, dinheiro ou medalha conquistada, mas sim naquele momento que está só você, aguardando o início da competição. Não existe momento mais intenso do que este. Sentar e pensar numa única coisa: a vitória. Refletimos também sobre a derrota, mas esta deve ser ignorada. D
4 O mundo espera ansioso o espetáculo. É a Copa do Mundo. O verde e amarelo predominam nas ruas, nas lojas e nas casas. Até imaginamos o resultado final.
Eu gostaria de uma Copa por ano, pelo clima que prevalece nesta época. Durante um mês o país se transforma. Somos brasileiros com orgulho. Queria ver meu país sempre assim. Com bandeiras nas janelas, nas portas, nos carros, nas camisas. “Eu amo o Brasil”. Eis uma frase que sempre deveria estar nas camisetas. Creio que seríamos diferentes.
fi.lo.so.fia s.f. “Minha mãe diz que eu sou pessimista. Meu pai não diz nada, mas minha professora dizia que eu tinha que ser otimista. Cresci dos dois lados. Existe uma balança em mim que diz que eu devo ser realista”. A
Este trecho poderia ser de qualquer um, mas é de um personagem de um livro. Esta frase nos dá uma certeza, ou pelo menos nos tira uma dúvida, que não temos que ser apenas pessimistas ou apenas realistas.
gri.far v.trans. (mod.1) 1 imprimir em itálico 2 sublinhar 3 enfatizar.
gri.fe s.f. nome ou marca própria de um fabricante ou criador.
grif.fe s.f. revista B A palavra “griffe”, tinha uma definição diferente em 1951: “fita costurada no interior de uma peça de roupa, com o nome do costureiro ou estilista.” (Dicionário Houaiss). Hoje a palavra tem o mesmo significado, com um ou dois efes. No entanto, a palavra griffe B atribuída a esta revista vai além. É a junção do verbo grifar, no sentido de memorizar a mensagem aqui exposta, com o substantivo grife enquanto marca. Somos uma grife como qualquer outra no mundo da moda. Mas nossa confecção é feita utilizando o papel, palavras e imagens como matéria-prima, e nossos estilistas são professores, jornalistas, poetas, compositores, psicanalistas...
guer.ra s.f. No ano passado, comemoramos o centenário do primeiro vôo d feito por Santos Dumont. Um homem que ficou por muitas décadas esquecido e que revive, por conta desta data histórica. Não fossem os incentivos midiáticos, ele ainda estaria esquecido, confundindo-se com tantas outras figuras, importantes mas desprezadas.
Voar sempre foi um sonho. Muitas foram as tentativas até que um brasileiro, mineiro, conseguisse o primeiro vôo com uma máquina mais pesada que o ar. A partir de então tudo mudou. Cem anos depois, ainda usamos na aviação comercial F a mesma aerodinâmica proposta por Santos Dumont.
O avião logo passou a ser utilizado para fins bélicos r. Decepcionado, Santos Dumont tira a própria vida L, como se fizesse deste um ato de protesto. Uma vez disse que não suportava a idéia de ver um invento seu sendo usado para matar pessoas.
Imaginar o que se passou na cabeça daquele homem já não é tarefa fácil. Como será que é então viver com a idéia de que algo que construímos está sendo usado para algo não planejado? Se pensasse no uso que teria seu invento, talvez não tivesse seguido em frente. É muito provável. Mas se não fosse Dumont, seria um americano ou um francês a tornar possível o sonho de voar.
Se hoje podemos usar os aviões como transporte rápido é porque alguém, em algum lugar do passado, apenas se preocupou com os benefícios. Ingenuidade talvez. ]
Os interesses ditam as ações. Fazemos uso dos objetos de acordo com nossas necessidades. Nem por isso armas deixarão de ser produzidas. Nem por isso aviões deixarão de voar. “Somos - como diz a música - quem podemos ser, sonhos que podemos ter.”
jor.na.lis.mo s.m. 1 O assunto agora é: vínculos afetivos que se desfazem rapidamente. Teria eu que mudar de profissão para não correr este risco? Sabe-se que a profissão de jornalista exige dele e de quem está perto muita paciência.
Pesquisa mostra que os relacionamentos dos jornalistas são passageiros. O pesquisador, advogado, psicólogo, mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e doutor em Psicologia pela PUC-SP Roberto Heloani, afirma que “por causa da carga horária de trabalho, não dispõem de muito tempo para a família.” O texto diz que a vida pessoal dos jornalistas é precária, por que trabalham em quase todos os finais de semana. A pesquisa também comprova que jornalistas resistem bem ao estresse, inclusive se dedicando com paixão à profissão, e nutrindo por ela uma relação de amor e ódio.
Se não há amor pelo trabalho, não adianta. Se não há amor pelo jornalista, também não adianta. Vai chegar um tempo na vida deste profissional que ele ficará vivendo o tempo todo para o seu trabalho. Principalmente na fase de crescimento. Dependendo do tipo de jornalismo que ele escolher, ou tiver que escolher, fará com que a carga de estresse seja maior. Nunca o estresse deixará de existir. Os verdadeiros jornalistas sabem lidar com o estresse. A cobrança é enorme: o tempo é curto para tanta pauta. É constante a luta contra o relógio. O jornalista vai se transformando num operário. É a revolução intelectual.
2 O processo de industrialização do jornalismo reduziu o caráter artístico da profissão. — O ensino nas universidades particulares e públicas baseia-se única e exclusivamente em tendências impostas. O aluno é condicionado a ser breve, a esquecer a crítica, a reportagem especial. Com isso forma-se uma geração de operários da notícia, com técnica para agrupar, de forma objetiva, algumas poucas palavras no espaço predeterminado pelo departamento comercial.
Neste contexto, a busca por lucro E rápido e fácil faz desaparecer a beleza da profissão do jornalista, antes admirado por sua capacidade de intérprete da sociedade (Precision Journalism: A Reporter's Introduction to Social Science Methods, de Philip Meyer, 1973). É esta mercantilização que destrói a identidade cultural e aniquila a criação artística no método jornalístico.
3 Fala-se muito sobre a influência americana no jornalismo brasileiro e o quanto ela pode ser benéfica ou prejudicial, dependendo do uso. O
Não podemos esquecer que as TVs foram importadas dos EUA. O termo apropriado seria “contrabandeadas” por Assis Chateaubriand na década de 50. Importamos os aparelhos e o modo de fazer jornalismo. Os primeiros jornalistas que trabalharam na TV vieram do rádio. Fazíamos um jornalismo capenga, pobre, no sentido literal do termo. Ao mesmo tempo criávamos uma identidade brasileira, nosso próprio jornalismo. Saímos à frente de todos os outros países da América Latina.
No entanto, depois da Segunda Guerra Mundial, a coisa mudou. Os brasileiros que passaram uma temporada nos EUA traziam com eles, consciente ou inconscientemente, o jeito americano de fazer jornalismo. Importamos tudo o que tinha dado certo por lá. Na TV, objetividade e matérias curtas. +
Decisões certas fazem toda a diferença num mundo que sempre foi competitivo como o da TV. Talvez seja este fator que faz com que as coisas sejam tão imprevisíveis e superficiais no Brasil.
4 Quando pensávamos que o sensacionalismo C estava desaparecendo, eis que ressurge com toda a força e sem nenhuma cerimônia.
O sensacionalismo nada mais é que a adição de emoções ao que está sendo retratado. Em determinados programas os resultados não são tão perturbadores. O problema é quando este sensacionalismo está presente nos jornais. Quando o jornalismo é sensacionalista há uma distorção dos fatos ocasionados pela emoção adicionada pelo apresentador. •
Em sua tese, Márcia Franz Amaral explica que “em geral, o sensacionalismo é um conceito de múltiplos usos, seguidamente associado a uma concepção limitada da imprensa e a uma noção elitista da cultura. Ora se torna demasiadamente aberto para se constituir numa categoria analítica adequada, ora parece ser estreito para dar conta de outras dimensões do fenômeno, configurando-se num conceito de baixa densidade explicativa”. E questiona “se num país em que a maioria da população carece de informações básicas para exercer sua cidadania, os jornalistas devam fazer jornalismo numa fórmula única e aguardar que a população tenha mais acesso à educação para compreendê-lo.”
É uma fórmula única que move o jornalismo sensacionalista. Baseia-se na explicação das emoções. Interfere de forma direta nos acontecimentos, contra todas as regras. Distorcendo informações, confundindo para o propósito do veículo. Em outras palavras, uma falsa preocupação com o espectador e com o personagem ou o assunto da informação.
Em dezembro do ano passado, o site da Folha de S. Paulo fez uma enquete  conveniente com os internautas para saber o que pensam sobre o assunto. Ao perguntar por que a emissora de Silvio Santos insiste em atrações deste formato, o resultado parcial foi este: - Porque seu faturamento depende do público de baixa escolaridade que compra o carnê do Baú e a Telesena: 29%. - Porque baixaria dá audiência, e Silvio Santos só pensa no IBOPE, mesmo que o programa não tenha qualidade: 20%. - Porque o SBT aposta na força de Ratinho de atrair anunciantes de produtos voltados ao público de baixa renda: 7%. - Porque só Ratinho tem cacife para deter o avanço do Brasil Urgente (Band), de José Luiz Datena, no horário: 7%. - Porque é do estilo do SBT, canal que sobrevive graças ao Chaves, novelas mexicanas, Hebe e A Praça É Nossa: 36%.
A pesquisa reflete bem o que pensam os internautas, que também são espectadores, a respeito da emissora que mais recorre ao sensacionalismo como base para segurar a audiência.
li.te.ra.tu.ra s.f. “Se não o reconheço em mim, em compensação sou Brás Cubas, noutros momentos sou Dom Casmurro, noutros o velho Aires. Tenho encontrado dezenas de Virgílias e de Capitus. E qualquer um de nós traz um bocado de Alienista em si.” Qualquer um que esteja um pouco ligado no que acontece ou aconteceu no Brasil poderia reconhecer e identificar o escritor que está implícito neste texto de Mário de Andrade, certo? Infelizmente não.
Conhecido em todo mundo; um sem-número de estudos e ensaios sobre sua vida e obra; recentemente transformado em filme (Memórias Póstumas de Brás Cubas); incontáveis publicações por várias editoras, o gênio Machado de Assis paradoxalmente é desconhecido por brasileiros. Citando o próprio Machado de Assis, a realidade é essa: “O Brasil real nunca esteve tão distante do Brasil oficial”.
ma.nu.al adj.2g. 1 da mão 2 feito ou acionado com as mãos s.m 3 livro de instruções.
mu.dar v. Previsões para 2017. Em 10 anos tudo pode acontecer. Costumo planejar a vida de dez em dez anos. É um bom número para seguir planos.
As catástrofes naturais e as revoluções nunca estiveram nas previsões. O mais tecnológico dos instrumentos não é capaz de prever, por exemplo, quando, como e onde um vulcão irá entrar em erupção. Ou então de que modo um meteorito pode atingir a Terra, sem nenhum aviso prévio. O que será que nos aguarda no futuro?
O que há de certo é que teremos de nos adaptar. A vida como a conhecemos hoje não será a mesma em dez anos. Bom tempo para começar a sentir as conseqüências do que estamos fazendo com a Terra. “A natureza não dá saltos”, já dizia um pensador e nós teremos que encontrar novas maneiras para viver. O caos ou a ordem? A escolha depende de nossas ações.
Quem poderia imaginar que nosso mais precioso e utilizado combustível, o petróleo, iria acabar? O homem utilizou tudo o que restava. Será assim em 18 anos. Mas quem se importa? A água é outro elemento cotado para ser o mais valioso líquido do planeta. Com escassez de água o preço vai aumentar, e será produto para poucos. Encontraremos alternativas?
As mudanças que teremos em 2017 também serão de ordem política e econômica. Afinal, uma coisa não caminha sem a outra. Acredito que em 2017 teremos algumas revoluções na política. As pessoas, pressionadas pela falta de recursos naturais, deverão tomar partido e pressionar os governos. Para entender: você já reparou numa manada de bois assustados? Ninguém segura. A violência tomará conta das cidades. O caos reinará.
Os dinossauros eram ameaça à Terra? Dominaram o ambiente, monopolizaram o planeta, eram os reis da época. Sabemos, no entanto, que a queda de um meteoro destruiu toda a vida. O homem terá o mesmo fim? Não vejo outro destino. Um fim catastrófico: o homem destrói a natureza. A natureza destrói o homem, o homem destrói o homem .‚
mú.si.ca s.f. Comentários preconceituosos sempre existem, mas nos surpreendem dependendo da origem. Ruy Castro, colunista do canal pago de notícias Band News, normalmente tem crônicas interessantes sobre o Rio de Janeiro, mas desta vez decepcionou seus espectadores. O colunista criticou a música X eletrônica, especificamente o DJ holandês Tiesto, que tocou para 200 mil pessoas no início desse ano na abertura oficial do ano dos Jogos Pan-Americanos no Rio.
Tiesto é um dos maiores nomes da música eletrônica. Toca o chamado Trance, estilo criado na Alemanha no fim da década de 80. O Trance destaca-se pelas repetidas frases melódicas geradas por sintetizadores, alternando momentos crescentes e decrescentes durante a música.
A eletrônica ² já ganhou o seu lugar de respeito pelo mundo afora. Só não vê quem não quer: em 2004 este mesmo DJ se apresentou na abertura das Olimpíadas de Atenas.
Falar mal de um tipo de música só porque não gostamos do estilo? Todos devemos gostar de Mozart » ou Chopin? Pelo comentário de Ruy Castro, quem gosta de Trance é um descabeçado. Para ele, o jovem de hoje é assim por causa do tipo de música que ouve e ainda disse que se comessem o que ouvem já estariam mortos. Mais preconceituoso impossível. M
na.tal s.m. O Natal pode ter perdido muito de seu encanto. Não é como antes (nada mais é como antes), onde a família toda se reunia ao redor de uma mesa, às vésperas do dia 25 de dezembro, com muita comida, presentes e pinheiro. Hoje, 30% dos lares não possuem mesa de jantar. '
A chegada de novas tecnologias, a falta de tempo e a perda de identidade cultural (outro nome para globalização), fizeram com que as comemorações se tornassem comerciais e sem sentido. É um fenômeno curioso: adotamos culturas que não são nossas. “Natal sem neveTnão é Natal”. Como não existe neve no Brasil, nós a criamos artificialmente. Um costume doido herdado dos países do Norte por meio dos filmes de fim de ano.
Natal pra mim sempre foi diferente. Minha mãe deixava o presente na beirada da cama. Nada de árvore, nem de pinheiro de acrílico. Tive uma infância normal, boa, ficava com toda a família nesta data (no dia seguinte ia brincar com os amigos e mostrar os brinquedos). O mais importante era a nossa particularidade. O curioso era que “ele” sabia direitinho o que eu queria. Naquela época tentava descobrir como “ele” tinha colocado o presente sem me acordar. Algumas noites fiquei sem dormir tentando encontrá-lo, mas “ele” nunca apareceu. Só muito tempo depois fui saber, meio decepcionado, que “ele” na verdade era “ela” e sempre estava ali, não entrava pela chaminé, não tinha barba, e atendia pelo nome de “mãe”.
Acho que é isso o que falta nas pessoas. Esquecer um pouco das tradições para poder inventar suas próprias celebrações.
po.lí.ti.ca s.f. 1 “A política está acima da consciência.” (William Shakespeare)
Ética e política não combinam. É o que sempre observamos. Os candidatos promovem suas campanhas enfatizando o que fizeram de melhor em seus mandatos anteriores. Do lado adversário, o contra-ataque, ressaltando o que o adversário fez de pior. Parece que o cenário não muda. Biografia que é bom não vemos nos jornais. Existem políticos que são eleitos sem saber escrever o próprio nome. Já aconteceu e pode acontecer novamente. Ética não existe em política. @
Se nos perguntarmos a definição desta palavra, diremos que ela se refere a algo relativo a moral. E moral os políticos não possuem. Ganhar a confiança dos eleitores atacando seus concorrentes? Que tipo de moral é essa? Você já viu alguém numa entrevista de emprego dizer para o futuro chefe que o cara ao lado, que também concorre à mesma vaga, é um péssimo profissional e que não faz as coisas direito? Na política tudo vale. Por este motivo ela é tão fascinante. Nossos julgamentos são diferentes na política.
Estamos num mundo competitivo. Para entrar nas duas das melhores faculdades públicas do país você precisa estudar feito um louco. Você não entra se não tiver feito um ensino médio de qualidade e ou um bom cursinho. As vagas são para poucos. Eles não aceitam semi-analfabetos.
Para se formar advogado, médico, jornalista, etc. você precisa passar por uma faculdade. Ficar quatro, oito anos dentro de uma instituição se preparando para chegar ao mercado de trabalho. Ninguém vai a um médico que não tem formação acadêmica.
Este é o grande erro da política, no Brasil e no mundo todo: colocar como representantes do povo pessoas sem a mínima preparação 1 para o cargo. Esta é uma das áreas que ficaram paradas no tempo e que não sofrem modificações porque o interesse não é de todos. Quem seria o político alienista para propor projeto contra? Uma lei que proibisse pessoas sem o ensino superior de concorrer aos cargos públicos? Seria uma revolução, mas ela não parece possível no momento.
Para ser lixeiro em São Paulo você necessita, no mínimo, do ensino médio. Por que para ser político não é preciso? É suficiente boa aparência, ser simpático e dinheiro para investir num bom marqueteiro.
Enquanto tivermos representantes semi-analfabetos teremos um país semi-produtivo, semi-justo, semi-ético.
2 Cada país tem sua preocupação. No Hemisfério Sul a corrupção é o que nos tira o sono, a paz. A guerra aqui é, ou deveria ser, contra a corrupção.
re.li.gi.ão [pl.: -ões] s.f. 1 A frase “eu só acredito vendo” é uma das mais infelizes citações que uma pessoa pode exclamar. Não tem nenhum fundamento. Muita gente é assim. Eu sou assim. E você que me lê muitas vezes já disse ou pensou esta frase. É bem mais fácil negar do que aceitar. Não importa se acreditamos ou não em vida após a morte, ou em Deus.
2 A religião é um chão de cristal. Mal explorada pela mídia. São poucas as publicações especializadas, ou os colunistas que tratam o assunto com originalidade (no Brasil cito a Revista Povos, interessante publicação especializada em teologia, que vai além do simples fanatismo). n
Com esta pequena introdução, refletiremos sobre o personagem Toninho do Diabo (interpretado pelo jundiaiense Antônio Aparecido Firmino). Conhecido mundialmente, é um misto de medo e humor, consiste numa caricatura engraçada, criticada e pouco compreendida. Por que criticá-lo? Por que ignorá-lo? Toninho do Diabo é deixado de lado pela mídia por ser um personagem que sempre causou medo nas pessoas. Estamos engatinhando no jornalismo religioso, sendo preconceituosos em relação a figuras artísticas que são simples personagens.
Conhecido e valorizado em outros países, Toninho do Diabo segue divulgando seu trabalho pelo mundo: ganhou 10 mil dólares nos EUA para enterrar-se vivo; foi presenteado por um fã com uma réplica do carro Christine, do filme de mesmo nome; recentemente lançou pela Editora Vardi sua primeira HQ, com material apenas nacional, contendo três histórias de terror.
Ao lado de Padre Quevedo, Zé do Caixão e Inri Cristo, Toninho é figura folclórica, assim como tantos outros mitos criados na sociedade. Com a diferença que alguns possuem a finalidade de amedrontar crianças teimosas ou homens que desobedecem regras. Quer melhor figura do que o Diabo para servir de repressor a quem não cumpre as exigências das religiões? Y
Mas Toninho é movido pela fama e promoção pessoal. Toninho do Diabo não é só um egoísta. Entende do que fala e se preocupa em utilizar sua popularidade em algo útil. Nos vídeos aparece falando de temas sociais e políticos. Ele tem calibre (leia a música “Eu Taco Fogo”). Quem observa a relevância da figura de Toninho é o pastor evangélico e também escritor Caio Fábio D'Araújo Filho. Toninho afirma num programa de TV: “Se eu fosse cobrar pelo uso do meu nome, a igreja de vocês tava falida. Vocês não sabem viver sem mim”. E o padre provoca: “De fato, se você ligar a televisão ou o rádio e ouvir o que dizem os pastores e locutores de religião evangélica, pouco se ouvirá de Jesus, mas muito se ouvirá do Diabo. Agora pense em como ficaria a igreja se Deus dissesse que não se pode mais usar o nome do Diabo numa pregação, num culto ou em qualquer conversa. Pois quem o fizesse iria perder dinheiro. O que sobraria para se pregar? Quem haveria de ser usado como Diabo a fim de que pelo medo as pessoas pagassem o dízimo?” (não confundir programas pagos com jornalismo especializado).
Os mitos são criados para repressão, foi assim sempre deste a Grécia. Em outras palavras: para causar medo. Sendo assim, o Diabo não é senão uma figura criada por homens com a finalidade de aterrorizar.
Que problema tem se o Diabo nos visita de vez em quando? O presidente da Venezuela Hugo Chávez afirma que Bush é o Diabo na Terra. Então o Diabo nos visitou este ano. Não dá para esperar muita coisa boa do Diabo, algum mal ele vai nos causar. Mas não se preocupem. É chegada a vez do Papa Bento XVI. Ele desce da Europa para uma visita ao 3º mundo.
sa.ni.da.de s.f. Entrar numa loja para escolher uma peça de roupa pode se tornar uma aventura torturante para algumas pessoas. Para quem duvida, vá até uma loja e fique observando por um tempo a movimentação dos clientes. Verá que a escolha entre uma roupa e outra pode demorar mais que o necessário e prejudicar muitas pessoas. K
Analistas dizem que é uma reação da pessoa que não consegue renunciar a um objeto. Por esta razão fica na dúvida entre duas ou três coisas diferentes. Para quem leu Don Juan de Marco, sabe bem o que isso significa.
Todos os dias tomamos decisões sem muito pensar, agindo unicamente através do instinto. Acordar: escovar os dentes ou tomar café? Leite ou suco? Torradas ou bolachas? Roupa social ou esporte? Dúvida, Dúvida, Dúvida.
“Nada é mais perigoso do que a certeza de ter razão. É preciso idolatrar a dúvida”, já dizia o filósofo François Jacob.
O artista nunca tem certeza do que faz. Pablo Picasso diz em Os Amores de Picasso, filme que retrata a vida amorosa do pintor: “não tenho certeza de nada do que eu faço e sou inseguro”.
so.nhar v.trans.int. As plantas produzem frutos que nos alimentam e saciam nossas necessidades fisiológicas. Mas para isso ela deve crescer com liberdade a e desenvolver suas raízes sem que ninguém interrompa esta trajetória. Muitas árvores são cortadas antes mesmo de começar a produzir frutos. Existem muitas mentes brilhantes no Brasil com o mesmo problema. São destruídas e na maioria das vezes jamais voltam a ter a mesma produtividade.
tv s.f. 1 Falar mal do próprio colega e amigo numa entrevista não é pra qualquer um. Não é questão de ética, mas sim de poder defender uma posição social, mesmo que pra isso seja preciso falar mal do programa do amigo. Dizem que não se fala mal de quem tem a mesma profissão, mas e quando é preciso criticar?
Parece que a crítica está dando lugar a um silêncio desagradável. Poucos são os programas ¹ que criticam a própria TV e os colegas que a produzem. Um repórter perguntou a Paulo Henrique Amorim sobre os programas sensacionalistas, em especial o apresentado por Datena. A resposta evasiva foi a seguinte: “o meu programa é inédito no país”. O repórter insistiu na pergunta, mas não adiantou: “o apresentador (Datena) é muito amigo meu e uma pessoa muito boa”, disse Paulo Henrique. Elogiou o amigo e não falou do programa em questão. Como disse a apresentadora Sonia Francine, a Soninha, em debate sobre TV: “diante de um império você não tem o que fazer”.
O que está em questão não é a amizade. Em pauta, a qualidade de um programa de TV. Poderia perfeitamente dar uma alfinetada de leve no amigo. Falar sobre o programa, de seus defeitos e efeitos nas pessoas. O entrevistado poderia ter se saído melhor. Não perdeu o amigo, mas decepcionou o público. Poderia até ter dado uns exemplos de programas em outros países. Não estaria prejudicando a amizade, nem mesmo a reputação em relação à emissora. Seria verdadeiro com o espectador.
Se Artur da Távola ouvisse esta história, diria que “é preciso falar sobre o que vale a pena; reclamar de quem tem algo para dar ou do programa que pode melhorar; exigir de onde pode sair algo bom; criticar a quem admirar e de quem algo esperar; destacar programas que representem algo de vivo, brasileiro, fecundo.” Datena não se encaixa no perfil. Está explicado.
2 Nada pode ficar parado no tempo. O que fica parado apodrece e prejudica quem está por perto. É o que acontece com os dinossauros E da TV brasileira.
Para citar apenas alguns: Faustão, Silvio Santos, Gugu Liberato, Serginho Groisman e tantos outros que insistem em ficar no ar (por curiosidade: o salário mensal de Fausto Silva gira em torno de 1,5 milhão). ‘‘‘
Pior é quando utilizam a fórmula de sempre. Vale um alerta: alguns formatos de programas não são por acaso. Foram feitos para hipnotizar o espectador. É por este motivo que fazem poucas alterações. Alguns programas mudaram apenas de cor. As piadas ainda são as mesmas.
O que falar, por exemplo, do Domingão do Faustão p ? Um programa que se propõe a ser uma mistura de tudo o que há de bom na TV. Que tipo de atração mais hipnótica é esta? TV aberta sempre esteve na zona de conforto. ‚
Não faz sentido mudar se a audiência só cresce. Veja quanto tempo a Globo colocou no ar Os Trapalhões. Aquilo estava tão incrustado na gente, era algo tão comum que se não assistíssemos ao programa aos domingos às 7 horas da noite não parecia que era domingo. É o que acontece hoje com o Fantástico.
3 Podemos afirmar que a TV tem sido, desde a sua criação, um veículo preconceituoso. Negros, índios, pobres e mais uma gigantesca parte da sociedade é retratada de forma mesquinha. Durante muito tempo no Brasil não vimos negros ocupando cargos de poder nas telenovelas. Mesmo sendo uma população com 45% de negros.
A participação em papéis importantes é pequena. Mas a TV é um reflexo da sociedade. Não dá para culpá-la, dizer que é um meio elitista. Integra-se a uma sociedade que aboliu a escravatura tardiamente e carregou consigo marcas de um passado macabro.
Orientais, índios e homossexuais antes ficavam fora da TV. Aos poucos a questão vai mudando. Recentemente até uma favela cinematográfica foi construída para a gravação de uma novela. Em quinhentos anos seremos mais unidos. l
4 Apesar de todo mundo falar mal de novela, do tipo de abordagem que utiliza para conseguir audiência, o gênero é um dos produtos culturais mais importantes para exportação. Mostram a cidade de São Paulo e Rio I para o mundo.
Em todos os capítulos das novelas da Globo e da Record a cidade do Rio de Janeiro é mostrada em panorâmicas que exploram o melhor da paisagem. Isso é bom. Demonstra amor à nossa arquitetura, à paisagem, ao nosso ambiente.
Mas ao extremo isso pode cansar e o que era pra ser belo se torna monótono. Até a beleza cansa se não administrada com cautela. É o que acontece em Bollywood, na Índia. Esta é a maior indústria cinematográfica do mundo, com produção de quase mil filmes por ano, o dobro de Hollywood. Por que então não a conhecemos, mesmo sendo tão importante no mundo cinematográfico?
O problema de Bollywood são os musicais. É difícil para nós ocidentais entender e gostar do tipo de filme que eles produzem. Podem até fazer muito sucesso por lá, mas não nos agradam na mesma proporção que os filmes de Hollywood.
Em Bollywood, um filme pode ter até três horas de duração com dez canções. De repente num momento do filme os atores são projetados para cenários paradisíacos que não têm ligação com a trama para ser colocada uma canção. Pode parecer estranho pra nós ocidentais, assim como as imagens de Copacabana e do Cristo Redentor aparecendo a cada novo capítulo nas cenas de nossas novelas também podem não fazer sentido algum ao público indiano.
5 “Chapa branca x parece bom, mas enche o saco” (Luiz Inácio Lula da Silva - presidente do Brasil)
um.bi.go s.m. O refrão da balada Piercing, de Zeca Baleiro, exemplifica o momento individualista que o Brasil vive: “Tire o seu piercing do caminho/ Que eu quero passar, com a minha dor.” País cada vez mais umbilical. ö

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