monólogos carnavalescos

Dizem que aos 18 anos você vive como princesa, aos trinta como uma garotinha e aos 40 você volta a ser adolescente. Hoje aos 45 anos sinto-me como uma criança que acabou de descobrir que pode pensar, andar, falar, sorrir, correr, pular e brincar livremente... mas, esqueceu-se como começar. Dizem que todo mundo tem uma história. Vou falar da minha antes que eu morra e não possa gritar nem pro vento o momento mágico que estou vivendo.
Nasci boêmia, nasci trabalhadora e corajosa. Assustei-me com minha força na adolescência. Aos 14, como toda adolescente rebelde, fui embora de casa e no meio do caminho minha vida me passou como um filme. Voltei, antes que meus pais percebessem. Havia muito a perder. Decidida a lutar, vivi minha juventude usando minhas ferramentas com maestria. Trabalhava desde os 10 anos, estudava e jogava vôlei. Nada demais. Aos 18, já com certa liberdade financeira, vivi a boemia integralmente. Sempre me relacionei com pessoas 10 anos mais velhas que eu. E foi aí que conheci um príncipe. Todas as noites saíamos para bater longos papos filosóficos regados a uísque e a MPB é claro, toda a trupe de boêmios. Ah! como é boa a boemia. Eu amava isso. Aprendia tanto da vida que as 30 já me sentia com 60 de tanto conhecimento agregado. Mas o príncipe, que era 20 anos mais velho que eu, que contava com 20 anos na época, escreveu uma música para mim, e esta música, cantarola até hoje em minha mente. “Vinte anos, tantos planos, desenganos foi viver, vinte anos nos amamos pra valer....” e assim eu senti pela primeira vez a paixão arder forte em meu peito. Sensação indescritível. Fevereiro de 1982 fui convidada para ser candidata à rainha do carnaval, fiquei com medo, afinal teria que me expor e nunca gostei de me expor, enfim, aceitei e ganhei. A sensação indescritível de vitória. Foi aí que o príncipe da música chegou. Fevereiro de 1983, entregando a coroa de rainha, nem imaginava que meu futuro marido ali estava. Casei-me convicta de que seria casada para sempre. Seria feliz e teria 5 filhos. Em 1984 nasce o primeiro. Sensação inigualável. Já em 1990, o sonho começa a desmoronar. Primeira crise, primeira briga (monólogo claro): briguei sozinha, sempre. A partir de então só tristezas, decepções e muita luta, e eu sempre me dizendo: calma, vai dar tudo certo. Amanhã é outro dia (vi essa frase num filme). E prossegui com minhas tarefas de mãe, esposa, trabalhadora (não parei de trabalhar) e nem via o dia, meses. Anos se passaram. Vieram mais filhos, mas não foram cinco. Muito caro. Ano 2000: parei de trabalhar por contingência. Depressão. Entreguei-me à primeira oportunidade que apareceu: filhos já crescidos, fui fazer filantropia. Entrei de cabeça, corpo e alma, dei tudo o que eu tinha. Foi bom. Pessoas maravilhosas passaram por minha vida nesta época. Algumas entraram mesmo e não saem mais. Dezembro de 2006. Vida de cabeça pra baixo. Agonias, tristezas, dores, filhos já não precisam de mim como antes. Casamento? Que casamento? Acho que o cara que inventou isso estava no mínimo preservando seus direitos. Pois já pararam para pensar? Para casar preciso de um juiz, duas testemunhas (meu pai dizia que se pedem testemunhas não é bom nem garantido). Para separar preciso de muitas testemunhas para provar uma série de coisas das quais terei direito para mim e para meus filhos e preciso de um bom advogado. E dinheiro, é claro. Quem disse que separar é mais caro que casar estava corretíssimo. Fora os valores morais impagáveis envolvidos. Estranhamente estamos às vésperas do carnaval. E eu estou me separando. Pelo visto, vou pular carnaval sozinha. Foram tantos carnavais sozinha, o que tem mais um? Hoje sou criança, posso pular, correr, brincar, gritar, chorar, ficar triste e alegre, só não sei por onde começar. “Vinte anos, tantos planos, nos amamos pra valer.” Vinte anos, que saudade.
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