confusão humana

>>REINALDO REIGRIMAR, jornalista e
compositor. Atualmente reside em Londres
-
reigrimar@hotmail.com

Esperei o ano terminar para escrever sobre ele. Não sei se a esperança ainda habita esse mundo de intrigas, bombas e pobreza. Presenciamos uma catástrofe, televisionada para todos verem. O mundo está doente. Ele está com uma febre altíssima e de joelhos reza por um dia de paz. Foi assim, de joelhos, olhos fechados, sonhando alto - o "ser Mundo", sonhou que vivia esse dia de paz. Todos pararam e descobriram que a paz poderia salvar o mundo. Até que uma confusão na América Latina pôs a perder o que seria também uma Noite de Paz. O mundo acordou do sonho. Os tiros ecoavam nos morros e acertavam as pessoas. O fogo, uma das maiores descobertas do homem, matava pessoas numa cidade que chamam de "Maravilhosa". Ônibus queimados. Pessoas seguindo um destino e encontrando assassinos covardes.
Ansioso, apático e abatido, o mundo cresceu economicamente. Diminuíram os espaços e aumentaram a quantidade de dados armazenados em chips e progrediu a ciência. Patenteou novas fórmulas para os males humanos. As boas notícias também chegaram aos nossos ouvidos. Pena que vieram uma a uma, apagadas e esquecidas a cada nova catástrofe da natureza. Um furacão, um terremoto, uma praga, chuva e seca no Planeta Água. A verdade é que já estamos nos acostumando com essas notícias. Um animal que entrou para a categoria de extinção. Sabemos que somos animais, e a fila está andando. Um dia pode chegar a nossa vez. (...)
(...)As catástrofes naturais nunca mataram tanto quanto nos últimos cinco anos.
O Planeta sente as feridas. Chora em larvas que queimam e destroem cidades.
Problemas sociais como a guerra no Iraque, o terrorismo e todo o medo que ele traz. Está formando e delineando uma sociedade mundial, cada vez menos crente do próprio ser humano. Confiar no próximo fica mais difícil a cada dia.
Convivemos com roubos onde muitas vezes são pessoas próximas, um vizinho, por exemplo. Confiança é coisa rara em países como o nosso, onde os ladrões são eleitos pelo povo. O "bater carteira" deles é "desvio de verba". Nunca se descobriu tanta fraude, isso sim, pode ser uma boa notícia. Muitos deles dançaram em comemoração à impunidade num local de respeito. Pudemos ver a cara da corrupção, dar nomes aos bois. Colocar na testa de cada um: corrupto!
É difícil começar o ano com um texto assim. Triste e confuso. Ter que lembrar de tudo que aconteceu em 2006. Lembrar de tiros, fogos, pessoas correndo e se abaixando, pessoas queimadas, pessoas enroladas mortas. Imagem como a do bebê enrolado na sacola de lixo e jogado no rio. Ver o medo daqueles que desenrolando tal objeto não sabiam bem ao certo que ali tinha uma criança. Ver uma mãe com o filho assassinado nos braços e olhando para o nada, era o que ela enxergava: o nada. Perceber que religião pode botar a perder a paz, abrir a boca fica mais difícil, desenhar complicado. Ditador doente de cama, ditador a morrer de velhice, outro enforcado e outro testando bomba atômica. Infelizmente o mundo não vai ficar melhor se todos os ditadores morrerem. O que tem que morrer é toda essa confusão da humanidade.

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