A MORTE DO PT

>> Reinaldo Sampaio Pereira

A constante análise de fatos e de contextos faz-se necessária, quando se pretende, ao agir, multiplicar acertos e evitar erros. É tanto corriqueira quanto prudente a lição que sugere o distanciamento dos fatos, quando se pretende análises mais frias e com maior repertório de dados, portanto com menor probabilidade de incorrer em erros. Em meados do ano passado, no auge dos escândalos do denominado mensalão, surgiu repentinamente e ganhou eco nas diversas mídias a notícia que o Partido dos Trabalhadores estava, de modo cambaleante, dando os seus últimos suspiros. Mais uma vez, por múltiplos motivos, muitos discursos se afinaram na propalação da morte do partido. Alguns desses motivos pareceram mais visíveis, como a tentativa da oposição de enfraquecer o principal partido de sustentação do governo federal. O discurso uníssono de alguns parlamentares ganhou grande cobertura na mídia, levando à análise profética da breve morte do partido.
Mas, ao que parece, a 'crença' na sua morte não pode ser explicada apenas como resultado da manobra do grande interessado em tal óbito, a oposição. Quando o episódio ganhou a mídia, já havia a percepção que membros do PT haviam sido seduzidos pelo poder.
Novos escândalos se sucederam. Surgiu, então, a crítica que o partido não se sustentaria, por estar com a base corrompida, uma vez que nomes fortes do partido, como o do seu ex-presidente, José Dirceu, e do seu então presidente, José Genoino, estavam vinculados a operações ilegais. No auge da crise, alguns setores da mídia sentenciaram a morte do partido. Mas o PT continuou respirando. Se esses episódios vão permitir que o partido, após o grande abalo que sofreu, vai se reestruturar, de modo a dificultar o surgimento de novos escândalos com a proporção dos ocorridos, isso será a examinar. Mas, da ocorrência dos escândalos, anunciar afoitamente a morte do PT, desconsiderando que o partido está fortemente consolidado, esquecendo-se que ele tem grande expressão nacional, existe há 26 anos e, a despeito dos episódios recentes, registrou o seu nome em decisivos momentos da história política brasileira, parece-nos ou um ato de má fé, ou de falta de sensibilidade política, ou então de quem precisa polir a bola de cristal. É forçoso que haja mudanças no partido, mas mudanças não implicam necessariamente na sua morte, haja vista as transformações pelas quais o PT passou, em função das escolhas feitas para obter importantes vitórias nas urnas (desde os preparativos para as eleições de 2002, como a aliança com o PL, de José Alencar, a aproximação com Quércia e Sarney - e alguns outros nomes da política brasileira -, que gerou grande insatisfação e, conseqüentemente, desfiliação de muitos petistas), da recente vitória de Ricardo Berzoini sobre Plínio de Arruda Sampaio, na disputa para a presidência do partido (dando continuidade ao processo de mundança iniciado com os preparativos para as eleições de 2002), etc. A metamorfose do partido (que começou a ser anunciada já na 'Carta ao povo brasileiro') e os escândalos nos quais ele se envolveu, no cômputo geral, ofuscaram um tanto o brilho da estrela do PT, mas não o conduziram à morte, como mostram os resultados das eleições.

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