ESSE DESCONHECIDO, DE DIVERSAS FORMAS

>> Fábio Portugal

Um dos maiores desafios do homem ao longo dos tempos sempre foi lidar com o desconhecido, aquilo que ninguém vê. Talvez por isso a morte seja um assunto tão pouco discutido, tanto pela imprensa quanto em uma roda informal de amigos. Para muitas pessoas, ao abordar a morte a sensação é de que se está andando em um terreno pantanoso, onde qualquer tipo de comentário ou opinião deve ser extremamente bem pensado e ponderado.
Tomando como exemplo a cidade de São Paulo, que possui uma pluralidade cultural indiscutível, é possível presenciar em um mesmo dia rituais funerários das mais diversas crenças. Rituais majoritariamente católicos, em que acreditam que o cristão "deixa este corpo para ir morar junto do Senhor" (2Cor 5,8). Durante o velório, o caixão fica embaixo de um crucifixo e acompanhado por quatro velas, duas de cada lado. A Igreja Católica recomenda a cor roxa em sinal de respeito ao ocorrido. O dia 2 de novembro é adotado como data oficial para se homenagear os mortos, mas nada que proíba reverências em qualquer outro dia do ano.
Os espíritas são os que realizam a cerimônia fúnebre de forma mais simples, não havendo qualquer tipo de procedimento obrigatório. É desejo de todos os enlutados que se reze pelo espírito desencarnado para o envio de vibrações positivas. Atitudes derrotistas como o questionamento da morte são vistas como prejudiciais ao espírito.
Existem também as religiões que seguem rituais desde o momento em que a morte é constatada. Com um menor número de seguidores no Brasil, o judaísmo pode ser citado como um bom exemplo disso. As janelas devem ser abertas, os olhos do morto fechados e o corpo coberto por um lençol branco, na tentativa de conduzi-lo ao mundo espiritual, e enxergá-lo desta forma. O cemitério é considerado um local impuro, e não deve ser freqüentado pelas mulheres. Na saída do enterro, os judeus procuram despistar o “Anjo da Morte”, ao não voltarem diretamente para suas casas. Budistas costumam cremar os corpos para demonstrar a fragilidade da vida humana, e muçulmanos possuem uma série de cuidados com o corpo do morto até o momento do sepultamento, sem o uso do caixão.
Costumes tão diferentes, que pensam única e exclusivamente na melhor forma de prestar uma homenagem aos que partiram. Não cabe aqui e em lugar algum julgarmos o que é considerado “certo” ou “errado”, e sim que cada um através de seus próprios meios saiba discernir e escolher aquilo que acredita.

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