CIDADE DO PORTO

porta de entrada para as vinhas da região do Minho

>> Andréia T. Couto

A empolgação da chegada foi quebrada pela desagradável surpresa de que minha bagagem não havia chegado junto comigo. Nenhum problema se não houvesse saído se São Paulo com 10° e chegado no Porto com 37°, com uma roupa inadequada à temperatura local e que só receberia as malas extraviadas 24 horas depois. Mas esse ligeiro contratempo foi amenizado pelo clima de férias, céu limpo e a expectativa de quinze dias que seriam muito bem aproveitados dali pra frente.
A primeira lembrança que costuma vir à mente quando se fala do Porto é seu famoso vinho. Mas este é somente uma dentre suas muitas preciosidades locais. A cidade, localizada na região norte de Portugal, está às portas do Minho e é banhada pelo rio Douro, nome recebido devido às pedrinhas douradas que rolavam das encostas escarpadas e depositavam-se no fundo do rio, que mais tarde descobriu-se serem de ouro. Entre seus cartões de visita mais famosos está a ponte construída por Gustave Eiffel, chamada Maria Pia, concluída em 1877.
Além do vinho do Porto, a culinária local oferece sabores conhecidos que nos fazem lembrar que já provamos aquele arroz de forno, o arroz malandro – mais úmido, do tipo que se preparam risotos, os pastéis, os filés. Do lugar, para quem aprecia sabores fortes, nada melhor que a chafrana – carne de cabrito, cabra ou carneiro, assada ou cozida, e, é claro, o queijo da Serra, que pode ser apreciado em um típico restaurante perto do Porto, chamado Mariozinho. Se quiser provar o melhor bacalhau da cidade, a pedida é ir, segundo amigos locais, até o restaurante O Tanoeiro.
O passeio pelo centro do Porto deve ser feito muito calmamente e se possível, a pé. Compre um mapa da cidade e região, um guia turístico com as melhores pedidas, e se hospede em um dos muito agradáveis pequenos hotéis nos arredores da Praça da Liberdade, próximo à estação central (o imenso saguão da estação reproduz em azulejos e afrescos cenas de momentos históricos). Por ali, um lugar estratégico, você terá oportunidade de caminhar por lugares belos e curiosos e observar a arquitetura que é uma das belezas da cidade, um verdadeiro museu a céu aberto. Considerada Patrimônio Cultural da Humanidade, título concedido pela UNESCO, a cidade do Porto preserva cuidadosamente seu acervo. O verão é a melhor época para se percorrer a cidade, entrando por vielas estreitas, em pequenos cafés e bistrôs, charutarias, lojas de artesanato (os bordados são uma tradição local). À noite, um jantar no Faro, ao lado da Casa do Infante, apreciando um fado, é claro.
Depois das visitas aos lugares mais interessantes da cidade, chega o momento de partir para os arredores, pelo Minho, em direção à Serra do Marão, de 1200 metros de altitude, na divisa do Minho e Trás-os-Montes, e do Vale da Campeã. No percurso, Vila Real, uma cidade medieval
com sua arquitetura típica, a cidade de
Régua, capital econômica do Douro, a Vila de Resende, capital da cereja, que guarda sítios pré-históricos. É lá que se encontra a igreja de N. Senhora do Cárquere, um templo manuelino de fins do século XIII. O panorama dali é perfeito para se avistar, como do convés de um navio, o ziguezague do Douro por entre as serras todas embabadadas pelas curvas das plantações de uva, as vinhas em bordaduras. Não há serra, por mais íngreme que seja, que não esteja aproveitada para o cultivo das videiras em escadaria. São plantações centenárias e seu cultivo praticamente feito de forma artesanal, uma vez que é impossível qualquer tipo de maquinário circular nas suas encostas. Na volta, entre estradas pavimentadas de pedras e muros que lembram os cercamentos medievais de pedra, depois de passar por povoados pré-históricos Castros, Citânia, e as Termas de Vizela, é obrigatória a passagem pelo mosteiro beneditino de Singeverga e pelo Mosteiro de Santa Escolástica, na região de Roriz, onde estão à venda caixas de biscoitos amanteigados, embalados em charmosas caixas azuis e brancas, chamados “Especialidades Claustrais”, feitos pelas monjas beneditinas. Um passeio repleto de sensações, tanto visuais quanto para o paladar. Para os que apreciam um bom vinho, a pedida é perfeita.

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