Quem nasceu primeiro: a política ou a corrupção?

>> CADU VILLA LOBOS

Não é de hoje que se associa política a corrupção. Mas o que surgiu antes?
A corrupção existe somente na política? Será que se estivéssemos no lugar dos políticos faríamos diferente? Somos incorruptíveis?
Todos estamos escandalizados com a situação delicada que o país vive hoje, com mensalões, propinas, superfaturamentos, desvio de verbas etc, etc, etc. E com a mais absoluta certeza, nós do povo não sabemos um por cento do que realmente acontece no poder, e por mais escândalos que sejam descobertos e apareçam na mídia, continuaremos a não saber. Muitos desses escândalos são manobras para descartar alguns “jogadores” que não seguiram as regras.
A verdade é que os grandes “jogadores” nunca aparecem e manipulam tudo nos bastidores. Mas voltemos à pergunta: o que surgiu antes?
Em terra de cegos quem tem um olho é rei. Vamos sair desse pressuposto, que o primeiro líder foi alguém que tinha uma visão melhor do que a da maioria das pessoas. Que tinha por objetivo direcionar, ordenar, formular procedimentos e juntar forças para o crescimento de um povo.
Para fazer isso tinha que centralizar os anseios de todos na voz de uma pessoa, o líder, o rei, o presidente ou um chefe, ou seja, o primeiro político, e conseguir o apoio da maioria. Mas para tudo funcionar deve haver uma sede de governo, conselheiros, meios de ação. Para institucionalizar os meios, é preciso dinheiro. Para ter dinheiro, cada indivíduo precisa doar um pouco, talvez aí tenha surgido o primeiro imposto. Com o dinheiro é possível governar e fazer benfeitorias para uma sociedade. Mas tudo que envolve poder e dinheiro gera interesses.
Então digamos que a política surgiu antes, e com boa intenção. Mas com tanto dinheiro passando pelas mãos desse líder, será que seus objetivos continuaram os mesmos?
A Revolução Francesa tirou os aristocratas do poder e colocou os burgueses, que tinham como ideal a igualdade, a liberdade e a fraternidade. Quando chegaram ao poder deram nova leitura aos ideais da causa e a massa continuou na mesma. O comunismo foi outro exemplo, tinham como proposta dividir tudo entre todos, e não foi o que aconteceu. Hitler também prometia uma Alemanha mais forte, moderna e justa, mas dizimou milhões de alemães judeus quando assumiu o poder, por pouco não conseguiu estender seus braços nazistas sobre o mundo. Napoleão foi outro, só caiu porque queria mais e mais.
A história mostra que poder, dinheiro, política, ambição e corrupção andam juntos desde os primórdios. Há algo nessa receita que corrompe as pessoas, mesmo as mais valorosas. É a lei de Gerson: “É preciso tirar proveito de tudo”, como dizia um comercial antigo.
E você leitor, nunca pagou algum dinheiro a um guarda para se livrar de uma multa de trânsito? Sempre devolveu o troco errado que alguém por engano lhe deu a mais? Nunca tirou proveito de alguém porque descobriu algum segredo dessa pessoa? Nunca mandou um presente para alguém visando um apoio ou interesse futuro? Nunca ganhou uma “comissão” por colocar em contato pessoas que você conhecia e que desejavam vender ou comprar um mesmo bem? Se você nunca fez nada disso, você é honesto. Nosso voto é seu, caso se candidate.
Precisamos de você em Brasília!
A linha que separa honestos e desonestos é muito tênue. Quem é mais desonesto, o político que diz abertamente que rouba mas faz, ou o que rouba mas diz que é honesto? Como governar, se para aprovar qualquer projeto todos os votantes querem tirar alguma vantagem? A demanda de corruptos cria a oferta de corruptores? Não há solução a curto prazo, talvez não haja nunca, o que talvez possa acontecer é instituir limites:
“Esse ano o sr. Deputado já gastou toda a sua cota... não podemos fazer mais nada”, ou, “Este mês o sr. Senador tem uma verba de “X”, use-a com sabedoria”.
Política e corrupção têm quase a mesma idade e são irmãs de sangue. Como diz um velho ditado: “Todos têm seu preço”.

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