A política e a vida cultural de Londres

>> REINALDO REIGRIMAR,
jornalista e compositor, atualmente reside em Londres
reigrimar@yahoo.com.br

É ouvindo o som do U2 que começo a escrever esta crônica. Vocês querendo descrição da cidade e eu querendo ver as pessoas. Poderia falar, falar tanto sobre a velha e a nova Londres, mas o que mais me chama a atenção são as pessoas que nela vivem. É uma viagem pelo mundo da cultura. Quem disse que para conhecer os costumes indianos você precisa estar na Índia? Meu caro leitor, Londres é o lugar.
Essa imagem de Londres - o maior relógio do mundo, a roda gigante, os castelos, os parques - isso é para turistas. A diversidade cultural é que melhor descreve Londres.
É importante entrar em um metrô, 30 minutos de viagem até a estação de trem, onde vou para o interior. Vejo coisas importantíssimas. As raças negras e os africanos. É o povo que mais gosta de aparecer. São de uma ideologia tão radical quanto ao uso de roupas que nada para eles é demais. Mulheres em pleno verão inglês com longos vestidos em rendas africanas, todo em tom branco e prata, reforçando o luxo da roupa, que para nós seria um vestido de casamento e deveria estar indo apenas a uma igreja.
Já os negros ingleses não ficam muito atrás, estes sim estão “por cima”. São os "riquinhos daqui". Das Ferraris que passam nas ruas, 70% são eles, com suas corrente grossas de ouro e o hip hop no som dos carros. O tipo de música que mais faz sucesso por aqui. As mulheres vivem no salão alisando e colocando aplique. Um dia desses vi uma dona com o cabelo igual ao da Margie, mulher do Romer Simpson. Eles na maioria são arrogantes.
Os indianos aqui são donos de incontáveis mini-mercearias do tipo “última hora”. Eles ganham muito dinheiro, vivem aqui e nunca pretendem voltar para o seu país. São legais exilados, que trouxeram uma cara nova e a salvação de todos os outros estrangeiros aqui, pois seu comércio de cartões telefônicos, comida, verduras, e restaurantes possibilitam, além de emprego, muita economia para todos. Em Londres, a cada duas esquinas existe uma mercearia de indiano. Londres é uma Índia, só faltam as vacas sentadas nos parques tomando um solzinho. As indianas são lindas, belos cabelos, com seus rostos às vezes cobertos, despertam nossa curiosidade. Também existem aquelas que quebram tabus, com o rosto de fora e a maquiagem a mostrar a boca.
Os japoneses tão básicos e tão despojados como nunca. São de uma simplicidade no se vestir que acho os melhores em termos de estilo. Então de costas você vê o cara com uma calça jeans desbotado no estilo mais do que lavada, tênis baixo estilo All Star, e sempre, sempre, com a bolsa de lado.
Londres por si só é uma grande e bela favela, pois suas casas com mesmo estilo, todas construídas às pressas depois da guerra e tudo de madeira e tijolo a vista. As paredes das casas são umas coladas nas outras, quase não se percebe onde começa uma e termina a outra. É interessantíssimo saber também o que esse país ganha e ganhou com essas casas.... Para se ter uma idéia, você não pode vender a casa, apenas comprar. É um big aluguel de cem anos. Depois disso a casa é do governo, se você não morreu o governo paga um aluguel para você morar. Tudo é da Rainha. Quem dera se as favelas do Brasil fossem assim.
Se hoje as favelas atraem tantos turistas, imaginem se todas as casas fossem padronizadas com cores, formatos, tudo urbanizadinho e bonitinho? Seria sim favelas modelos. Nosso país pode fazer isso, pois tem dinheiro, mas essa política de roubos não deixa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A viagem de Platão a Siracusa

Livros

O continente branco: viagem ao fim do mundo