ÉTICA - UMA GRIFFE DO SER HUMANO SEMPRE NA MODA

JUAN DROGUETT, psicanalista, professor universitário, escritor e pesquisador.

A ética é uma griffe do ser humano civilizado porque esta representa um ideal com o qual ele compromete sua vida. A partir deste pressuposto, quero tecer algumas reflexões em torno de um tema tão recorrente na nossa realidade contemporânea, mas ao mesmo tempo desconhecido nos seus princípios teóricos. Quanto mais na sua prática que exige um compromisso “radical” com nós mesmos, com “os outros” e com a vida como existência.
Costuma-se definir a ética como a doutrina do bem e do mal. Enganados estão aqueles moralistas que não querem saber, ou que não lhes convém saber, que a ética está voltada justamente para aquilo que estamos deliberadamente preparados para aceitar como afirmação do que queremos fazer, daquilo que buscamos, daquilo para onde a força de nossa vontade nos direciona.
É a nossa vontade que nos constitui em seres únicos e livres para escolher aquilo que a vida tem de “admirável”, no plano físico ou metafísico; natural ou sobrenatural. Isso que é realmente desejável e que se transformará no eixo e que dará sentido a nossa vida. Portanto, nosso empenho ético é para aquilo que buscamos como ideal e que transcende a esfera do concreto, graças a nossa própria intervenção. A adoção deliberada de um ideal ético e o empenho em atingi-lo se transforma, assim, na expressão máxima de nossa liberdade. Desta forma, o certo e o errado são concepções éticas, mas não a ética na sua função vital.
O ser humano de hoje, em meio de um sistema que industrializa, mercantiliza e torna seus bens simbólicos e espirituais em objeto de consumo, assume uma posição ética na medida em que se relaciona criticamente com este estado de coisas e reage frente ao sistema social, político e cultural em prol de seus direitos.
O que nos angustia, em relação ao problema da ética, é descobrir que a humanidade, em vez de entrar em um estado verdadeiramente humano, está se afundando em uma nova espécie de barbárie, como diria a Escola Crítica de Frankfurt. A barbárie nesse sentido resulta de um estado de confusão de interesses, nos tênues limiares que existem entre o individual e o social. O ser humano está eternamente estabelecendo uma co-relação entre si e o mundo, atormentado pelo anseio de atingir um ideal que se encontra fora de si e de se fundir ao mesmo. Esse ideal o percebe como um tipo de princípio fundamental sentido intuitivamente. Ante a frustração de não atingir tal ideal, na insuficiência de seu próprio “eu”, encontra-se a fonte da dor e da insatisfação.
As obras-primas deste ser individual e, ao mesmo tempo, social, nascem da luta travada para expressar os ideais éticos que movem o mundo. O ser humano ama a vida e sente necessidade de conhecê-la, de modificá-la e de torná-la melhor. Exaltar o valor da vida passa, então, pelo filtro das representações subjetivas de cada um de nós, por nossos estados de espírito. Assim, a ética será um esforço espiritual que aspira à maior perfeição para criar uma imagem do mundo que nos fascina. Uma utopia na qual se conjugam a harmonia dos sentimentos e os ideais compartilhados na alteridade “do outro”. Talvez o impasse esteja aí, em como trazer o mundo subjetivo de nossos ideais para o plano objetivo da realidade na qual o sujeito está vivendo uma crise de identidade e de valores. Por isso, o título desta matéria que escrevo para a Revista griffe. A ética é uma griffe para todo e qualquer ser humano disposto a enfrentar, conscientemente, o desafio de ser mais humano na realidade de sua própria missão, viver o trabalho ou profissão na base de seus ideais éticos como único objetivo de vida e vivenciá-los cada vez como algo que nunca passa de moda.

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