ETERNO OTIMISMO

“Este veículo pode ensinar. Pode esclarecer e até inspirar. Mas só pode fazer isso se as pessoas o usarem com esse objetivo. Senão será apenas um monte de cabos e luzes dentro de uma caixa.” Esta polêmica frase foi dita em 25 de outubro de 1958 pelo âncora da CBS Edward R. Morrow (representado na foto ao lado pelo ator David Strathairn). O depoimento deste jornalista foi uma resposta ao que acontecia naquela época, quando a TV estava num momento delicado nos Estados Unidos. Era o início da era da TV que tomava o lugar do rádio. Mas para este jornalista aquilo que queriam lhe impor não podia ser aceito. Os lucros não estão acima da verdade.
Esta e muitas outras frases interessantes o leitor encontrará no filme Boa Noite e Boa Sorte (Good Night, And Good Luck) dirigido por George Clooney (foto acima), lançado recentemente em DVD.
O filme mostra a luta de Morrow contra a política anti-comunista deflagrada pelo senador republicano Joseph McCarthy. George Clooney é ator coadjuvante, mas foi como diretor que ele conquistou público e crítica com esta obra.
Boa Note e Boa Sorte é um filme que vai permanecer por muito tempo. O filme é todo rodado em preto e branco, o que possibilita uma atmosfera mais dramática. Percebemos melhor as expressões nos rostos. Principalmente quando Edward R. Morrow termina suas transmissões ao vivo dos estúdios da CBS, sua preocupação com o que virá depois por causa de seus politizados discursos é valorizada com a ausência de cor. O que permanece são as expressões.
O filme começa e termina com o discurso feito por Edward R. Morrow ao ser homenageado pela Associação dos Diretores de Rádio e Telejornalismo. Estas são as últimas palavras de seu discurso: “Mas, exceto se esquecer os lucros e reconhecer que a televisão está sendo usada para distrair, enganar, entreter e nos isolar... Então a TV e os que a patrocinam, assistem e que nela trabalham... Terão uma visão bem diferente, mas tarde demais.”
Apesar de se passar nos anos de 1953 e 1958, o filme poderia se aplicar aos dias de hoje, pelo menos no Brasil. Parece até que ele está falando para alguns sul-americanos. Produtores, apresentadores e espectadores. Eu, como espectador, vejo o Brasil representado da primeira à última frase de seu discurso, exceto na coragem deste jornalista. Como ele menciona, “se não fizermos nada agora, será tarde demais.” Morrow fez. E os âncoras brasileiros? *
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