Os desafios dos documentaristas

Flavio F. A. Andrade

Que os documentários estão hoje ganhando as salas de cinema no Brasil não há dúvidas. Todos nós estamos presenciando um crescimento em todo o cinema brasileiro e com relevante desenvolvimento está o documentário. O mais curioso desta trans-formação, ou melhor, desta fase, é que a TV também está sendo um suporte para esta “nova”categoria, prova disso foi a exibição do documentário "Falcão - O sobre-vivente" no Fantástico. Este programa, um dos mais antigos da TV brasileira, nasceu assim, documentando, até passar por muitas trans-formações e chegar ao que é hoje, uma revista semanal “eletrônica” de entretenimento e informação. O “Fantástico” perdeu muito de sua origem, dos documentários que produzia e exibia, mas ainda continua reservando surpresas, guardando um pouco de sua boa ideologia.
"Falcão - Meninos do Tráfico", um documentário do rapper MV Bill e do produtor Celso Athayde foi exibido neste programa e foi um sucesso, entre profissionais e o público. Para meu espanto e de muita gente, na segunda-feira ele estava na boca das pessoas, que comentavam todo seu conteúdo. A exibição estava prevista para 2003, mas foi adiada pelo próprio MV Bill. Com 58 minutos,o documen-tário foi colocado em três blocos e mostrou a rotina de 16 personagens, entre 14 e 18 anos, envolvidos com o tráfico de drogas. São os chamados Falcões, meninos que ficam vigiando em cima do morro a chegada da polícia.
No dia 12 de outubro está previsto o lançamento de "Falcão - O sobrevivente" nas salas de cinema.
Um jeito direto de contar uma história, a partir dos próprios personagens, nada de narrações e interferências dos produtores. Assim foi cons-truído este documentário. Este tipo de linguagem vem crescendo no cinema e atrai cineastas novos e até mesmo jornalistas que se aventuram numa nova possibilidade.
Por ser mais fácil de filmar, com uma câmera digital é possível hoje fazer um filme inteiro, os documentários cresceram no mercado e as opções saíram do cinema alternativo e estão chegando às salas do cinema comercial. Mas não basta uma câmera na mão e uma idéia na cabeça. É preciso mais do que isso. Não é nada fácil editar 90 horas de imagens, gravadas ao longo de seis anos, como é o caso de “Falcão”. Outro exemplo é “À Margem da Imagem” de Evaldo Mocarzel, que fez mais sucesso com sua edição resumida do que com a de 50 minutos. Documentar não é apenas ligar a câmera e deixar que o “personagem fale”. Existe também a direção, edição, roteiro e muita coisa que envolve uma filmagem cinematográfica. Mas o grande diferencial do documentário é que ele pode ser produzido com um orçamento baixíssimo, às vezes nenhum, como acontece hoje nas faculdades e projetos independentes.
No ano passado foi produzido um fotodocumentário, que registrou a vida dos moradores de rua de Jundiaí e Região. “Vida de Rua” foi parte do projeto desenvolvido por um grupo de estudantes do 2º ano do curso de graduação em jornalismo da Universidade Paulista (UNIP) de Jundiaí. O objetivo era mostrar uma realidade e uma tentativa de desmistificar a imagem do morador de rua. Com pouquíssimos recursos e muita disposição foi possível passar a mensagem e registrar um momento da história da realidade da cidade e do Brasil.
Num país como o nosso, onde não existe um verdadeiro incentivo ao cinema, o fato de não precisar de grandes orçamentos para produzir um vídeo possibilita impulsionar a produção áudio-visual. Fazer, então, não se torna um desafio intransponível. Onde será exibido aí sim está o diferencial, pois quantas coisas boas deixamos de ver porque não “passou” na TV? *

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