Eu parei de fumar!

Cadu Villa Lobos

Quando comecei a fumar eu devia ter uns 13 ou 14 anos de idade, aprendi na rua, com os “amigos”. Naquela época havia muita propaganda de cigarro, e o pior, feita exa-tamente para a minha faixa etária.
Fumava nas festinhas, atrás da escola, em casa (escon-dido), até que com uns 15 anos fui descoberto, deixei uma “bituca” no banheiro! Fui repreendido por meus pais, que me explicaram o mal que o cigarro fazia etc, etc, etc. Mas isso só serviu para eu assumir o vício, além de não parar de fumar, aumentei o número de cigarros que fumava.
Hoje tenho 36 anos, não fumo faz um mês, ainda estou em um período de “liber-tação”. É isso mesmo, libertação, pois eu era escravo do cigarro. Se meu cigarro acabasse às três horas da manhã eu saía pra comprar; se eu acordasse no meio da noite para ir ao toalete, tinha que fumar pra dormir, fumava até tomando banho, bebendo então, ai já era demais, às vezes eu estava fumando um, e haviam outros dois cigarros acesos no cinzeiro. Eu não era meio viciado, eu era viciado inteiro!
Fumava 2 maços por dia, todos os dias. Ao acordar, antes de levantar da cama, já estava fumando. Nos mo-mentos de ansiedade, nervoso ou ociosidade, aí sim o vício falava alto, chegava a fumar três maços em um dia. Cigarro servia para preencher o tempo quando eu não estava fazendo nada, servia para me relaxar quando estava fazendo muita coisa, para acalmar quando estava nervoso e para excitar quando estava muito calmo, enfim, servia pra tudo!
Em janeiro deste ano fui ao pneumologista, falei do cigarro, que fumava há 22 anos, que já havia parado de fumar outras vezes, que queria parar novamente, e pedi para ele me passar uns exames e ver se eu tinha alguma coisa. Vocês já devem estar prevendo algo. Fiz todos os exames, e sabe o que deu? Nada! É isso mesmo, sem tirar nem por, foi exatamente isso que os exames deram: NADA! Resolvi parar de fumar na hora, de tão abalado que fiquei. Foi ler aquela notícia: “NEGATIVO”, que tudo parecia ter acabado pra mim, ou melhor, come-çado, 22 anos fumando igual a um condenado e não deu nada. Ninguém ganha na megasena duas vezes. Não sei se ganhei do cigarro, e se ganhei não sei se foram 22 vezes, mas pelo sim, pelo não, resolvi parar de jogar contra as 650 substâncias nocivas enquanto eu ainda estava ganhando. No jogo e na nicotina tudo pode virar de uma hora para outra.
Pois é meu amigo, trinta e poucos dias sem fumar, estou bem, estou limpo, estou são, sou um vencedor, dando lição de moral, tranqüilo... Mentira, mentira! Sonho com o desgraçado do cigarro todas as noites, tenho vontade todos os minutos, às vezes me pego olhando uma pessoa fumar, eu páro! Olho o ritual da fumaça em câmera lenta, da hora que a pessoa pega o maço, até ela colocar o cigarro na boca, procurar o isqueiro no bolso (sempre está no bolso errado), levar a mão até a boca (isso demora muito), acender, vejo a brasa ficando vermelha e corroendo o cigarro, vejo os músculos da face puxando a fumaça pra dentro, imagino a sensação no pulmão do fulano, sinto o prazer, o zonzinho na cabeça, e só paro de olhar quando vejo que o última baforada de cigarro saiu.
É, não é fácil, mas eu vou parar, como eu disse, ainda estou bem. Não vou esperar não ter mais jeito pra parar, não vou esperar o médico me dar um ultimato, afinal, hoje em dia a ciência já provou que o cigarro faz mal á saúde e muito mal, não temos mais propaganda, a maioria dos lugares é proibido para fumantes, não tem mais charme fumar, como havia na minha época. Pelo contrário, fumar é anti-social, gasta dinheiro, deixa fedido, com mal hálito, e leva a saúde embora, eu sei que é gostoso, e muito gostoso, inclusive relato aqui: Se um dia a ciência inventar um cigarro que não faz mal a saúde, eu volto a fumar na hora! Mas, enquanto isso não acontece, vou me cuidar enquanto tenho tempo, pense nisso, você pode não ter a mesma sorte que eu, não espere tanto, pare hoje! *

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