Durban, o primeiro contato com o reino zulu

Andréia Couto

A África do Sul tem estado na rota quase que obrigatória do brasileiro que parte para a África. Por uma questão estratégica, a maneira mais rápida para se chegar ao continente africano, principal-mente para quem sai das regiões sul e sudeste, é partir para Johannesburgo e de lá, toma-se o destino para inúmeras outras rotas. O Brasil começa a perceber que a apenas sete horas de vôo entre São Paulo-Johannesburgo encontra-se um país interes-sante e acessível. A começar pelo fato de nós, brasileiros, não precisarmos de visto de entrada no país.
No caminho de volta de Ruanda, fiquei alguns dias na África do Sul. No hotel em que estava hospedada em Jo-hannesburgo me informei como chegar até Durban e onde ficar. O próprio hotel fez a reserva e compra do bilhete de ônibus e o motorista do hotel me levou até a estação tudo isso cortesia do hotel. Detalhe: o trajeto entre o Nest Dove Hotel, uma simpática pousada a cinco minutos do Aeroporto Internacional de Johannesburgo, e o Park Station, no centro da cidade, demora cerca de 35 minutos. Mas por lá é assim: os hotéis oferecem serviços grátis de translado para aeroporto, estações de ônibus,para comprar passagens, embora os táxis não sejam caros, nem cobrem preços diferencias para turistas. Nesse ponto há uma observação importante: o povo da África do Sul é muito simpático. Há um lema por lá que diz: “Sorria sempre. O sul-africano aprecia muito os gestos de gentileza”. E assim é: um “bom dia!” com sorriso e você é tratado com simpatia e cortesia por todos.
Durban está localizada a 500 quilômetros de Johannes-burgo e sete horas de viagem de ônibus. A chegada a Durban, nas primeiras horas do dia, foi incerta: para onde ir? Por onde começar a procurar? Diante da estação de ônibus, vi um Íbis Hotel, e fui tomar as primeiras informa-ções. O porteiro, um congolês de Bukavu, cidade que eu havia visitado no Congo no ano anterior, ficou feliz em saber que eu conhecia sua cidade natal e me indicou o mais conhecido albergue de Durban, para onde se dirigiam, segundo ele, todos os mochi-leiros que chegam à cidade: o Banana´s Back-pakers, na Embassador House. Me colocou no táxi com a recomendação, diante do motorista, de que eu não deveria pagar mais que 30 rands. Paguei 50.
A África do Sul é um país que parece ter sido organizado para o turismo: a infra-estrutura turística é impecável, a rede hoteleira imensa: desde admiráveis hotéis cinco estrelas, em suas principais cidades e pontos estratégicos de beleza natural, como seus grandes Parques Nacionais o mais famoso é o Krueger Park - até as inúmeras possibi-lidades de escolhas para aqueles que viajam de forma mais descontraída e com modestos recursos finan-ceiros: os albergues da juventude são simpáticos e limpos e ainda se pode conhecer pessoas do mundo inteiro. Para os brasileiros, o câmbio está bastante favorável um real vale no câmbio oficial cerca de 5,6 ZAR (Zouth African Rands, em africâner), além de ser um país de custo relativamente barato. O turista deve guardar os recibos de tudo o que comprar, pois no final da viagem, no aeroporto, pode ter de volta o que lhe foi cobrado de imposto.
São muitos os encantos da cidade:bares, boates, restau-rantes e para quem gosta de esportes, Durban oferece a possibilidade de mergulhos, caminhadas, rafting, trekking, surf, pescarias, e contatos com a cultura zulu. A cidade, a maior da Província de KwaZulu-Natal, é um exem-plo da grande diversidade cultural existente por aqueles lados. Abriga o maior porto da África, localizado em Bay of Natal, no Oceano Índico e é a porta de entrada de muitos povos, que aportam em Durban trazendo suas roupas típicas, seus temperos estrangeiros expressos em uma culinária desconhecida e atrativa. Nas ruas da cidade, em grandes praças, ao lado de tendas de roupas, artesanato e utensílios, pode-se provar das delícias preparadas principal-mente por indianos, ao longo da Ajmeri Arcade, na Grey Street. Cidade dinâmica e organizada, seu centro abriga edifícios elegantes do início do século XX, como o City Hall, circundado por prédios de arquitetura moderna. A orla marítima é agradável e limpa e na parte mais movimentada, uma extensa feira de artesa-nato local. A avenida que acompanha a praia é repleta de grandes hotéis acondicionados em edifícios envidraçados que se abrem para o mar. Bares, restaurantes e cafés fazem a delícia dos turistas ociosos que podem se dar ao luxo de ficar horas sentados observando o desfile de culturas que passa diante dos olhos: mulheres cobertas por burkas negras, sem ao menos deixar os olhos à vista (sob um sol de 32 graus!), acompanham suas crianças à praia, passando ao lado de turistas européias que tomam sol de top less. Os indianos e árabes são parte considerável da população, sempre vestidos como em suas terras de origem.
O Workshop é um grande mercado localizado na região central onde, além das muitas lojas de alimentos e temperos, há lojas de artesanatos de grande parte do continente, desde os mais singelos até imensas girafas esculpidas em madeira. Trazer uma “lem-brança” dessas para o Brasil só se for despachada em um container serviço que os donos das lojas já incluem no preço do objeto e fazem todo o translado das esculturas. Ao lado do Wokshop, no prédio do Tourism Jounction, um centro de artesanato com os objetos mais típicos produzidos pelos povos da África do Sul, como cerâmicas, esculturas, borda-dos, tecelagem, uma infinidade de artigos refinados e coloridos. O trabalho feito de contas da arte zulu pelas mulheres tem uma história tradicional muito interessante, cada objeto coberto com diferentes combinações de cores tem significados diver-sos, pois sua elaboração pode deixar alguma mensagem de amor, ciúme ou desgosto na sua criação. Por exemplo, uma conta branca (ithambo) representa amor; uma conta negra (isitimane) significa desgosto, solidão e desapontamento, enquanto que uma conta verde (ululaza) implica ciúme ou paixão.

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